Miguel A. Lopes / Lusa
O chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, general Rovisco Duarte
O general Rovisco Duarte, Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME), facultou informação errada aos deputados da Comissão de Defesa Nacional (CDN), a propósito do processo de Tancos, no âmbito da investigação à discrepância entre a lista do material de guerra roubado e aquele que foi recuperado.
O Diário de Notícias (DN) avança que o CEME disse aos deputados que a Polícia Judiciária (PJ) só fez o “auto de apreensão” do material de guerra em Junho de 2018, ou seja, oito meses depois de este ter sido recuperado pela Polícia Judiciária Militar (PJM), a 18 de Outubro de 2017.
Esta informação prestada por Rovisco Duarte na CDN acabou por “descredibilizar a acção” do Ministério Público (MP), como referem fontes da investigação ao DN.
“Se a PJ só fez o auto em Junho, como poderia o MP ter identificado uma discrepância em Março?”, afiançam estas fontes.
As informações prestadas por Rovisco Duarte demonstram, como destacam essas fontes, que “o CEME ou não estava bem informado ou, igualmente grave, foi intencional para desvalorizar a discrepância”.
O DN cita também fontes judiciais que acompanham o processo que asseguram que o auto de apreensão do material de guerra, que foi recuperado na Chamusca após uma chamada anónima, terá sido feito logo depois da sua detecção pela PJM, em Outubro de 2017.
Em Junho de 2018, há um segundo auto da PJ sobre os “caixotes e embalagens onde o material de guerra estava acondicionado”, para “efeitos de recolha de provas” como “impressões digitais” e “vestígios para análise forense”, referem as ditas fontes ao DN.
Essa recuperação do material furtado está a ser alvo de uma outra investigação por suspeitas de que foi encenada entre a PJM e o ladrão, um ex-militar referenciado como traficante de drogas e armas.
O gabinete de Rovisco Duarte desmentiu, em nota ao DN, que este tenha dado “qualquer informação errada aos Senhores Deputados”, sem apontar mais esclarecimentos.
Uma fonte da CDN admite ao DN que pode ter sido “um lapso” ou que o CEME pode ter “recebido essa informação errada de subalternos”, frisando contudo que “não deixa de ser preocupante que, tendo em conta o que estava em causa, um Chefe de Estado-Maior não consiga garantir informação rigorosa no Parlamento”.
Também o deputado Marco António Costa, do PSD, que preside à CDN, refere ao DN que pode “ter havido um lapso”.
Já o deputado Jorge Machado, do PCP, fala na eventualidade de um “simples equívoco, sem relevância no que era realmente importante esclarecer nessa audição – e que ficou por esclarecer – que era saber se havia mais material que não tinha sido recuperado, além das munições de 9 mm”.
Para João Rebelo, deputado do CDS, é “estranho”, mas “ainda está por saber se o CEME também disse a verdade quando invocou o segredo de justiça para negar aos deputados a lista do material recuperado”, salienta.
Fonte: ZAP