Trinta anos de pesquisa na Área de Preservação do Santuário de Looe Key (LKSPA), no extremo sul de Florida Keys, teve como resultado uma descoberta surpreendente: a poluição humana direta é uma ameaça devastadora para os corais e rivaliza com as alterações climáticas.
Durante vários anos, o escoamento agrícola e os esgotos indevidamente tratados fluíram para as águas oceânicas da Flórida desde o norte de Everglades, elevando os níveis de nitrogénio e diminuindo o limiar de temperatura do recife para o branqueamento. Como consequência, a cobertura de corais na região reduziu de quase 33%, em 1984, para menos de 6%, em 2008.
Na sua análise, os cientistas descobriram que o branqueamento em massa ocorreu após fortes chuvas e como consequência de escoamentos terrestres. Por outras palavras, a quantidade de poluição local que entra nos oceanos representa o pior dos danos.
“Citando a mudança climática como a causa exclusiva do fim dos recifes de coral em todo o mundo, falta o ponto crítico de que a qualidade da água também desempenha um papel importante”, explica o ecologista James Porter, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos.
“Apesar de haver muito pouco a fazer para deter o aquecimento global, as populações locais podem reduzir o escoamento de nitrogénio. O nosso estudo mostra que a luta para preservar os recifes de coral requer ação local, e não apenas global“, rematou, citado pelo Science Alert.
Elevados níveis de nitrogénio causam stress metabólico aos corais, aumentando a sua suscetibilidade a doenças e aumentando a proliferação de algas que, por sua vez, reduzem a luz e aceleram o declínio dos corais. No entanto, os cientistas ainda não estão certos de como essas mudanças se relacionam com o crescente problema do branqueamento em massa de corais, doenças e mortalidade.
Estudos anteriores mostraram que entre 1992 e 1996 – quando os fluxos de água doce da Flórida foram direcionados para o sul – houve um aumento de 404% nas doenças dos corais no Santuário de Florida Keys.
Alguns sugeriram que estas mudanças estão ligadas aos anos do El Niño de 1997/1998, mas as datas não batem propriamente certo. Além disso, os cientistas deram muito pouca atenção ao papel que o escoamento poderia ter representado.
O mais recente estudo, publicado recentemente na Marine Biology, sugere que os recifes de coral estavam a morrer muito antes de serem afetados pelo aumento da temperatura da água.
A menos que tomemos medidas contra estas ameaças humanas, as coisas só vão piorar, alertam os investigadores. A comunidade científica prevê que a poluição de nitrogénio que flui para a costa aumente em 19%, como resultado de mudanças na precipitação devido às alterações climáticas.
No artigo científico, os cientistas deixam alguns conselhos: melhorar o tratamento dos esgotos, reduzir o uso de fertilizantes e aumentar o armazenamento e tratamento das águas fluviais.