Como se sofrer a picada de um mosquito não incomodasse já o suficiente, um novo estudo mostra que pode ter ainda um efeito significativo contrário no nosso sistema imunitário.
Um novo estudo mediu os efeitos da saliva do mosquito no nosso sistema imunitário, podendo explicar como algumas doenças se espalham tão facilmente pelo nosso corpo, avança o site Science Alert.
É certo que basta uma picada de mosquito para ver o nosso sistema imunitário reagir. Porém, desde sempre tem havido a longa questão sobre se as células tipicamente protetoras podem estar, afinal, a voltar-se contra nós, ajudando a trazer os “invasores” ainda mais facilmente para dentro do nosso corpo.
Para testar esta ideia, investigadores do Baylor College of Medicine, no Texas, procuraram por mudanças nas respostas imunitárias em cobaias, a quem foram introduzidas células humanas, até uma semana depois de terem sido picados por mosquitos.
Este novo estudo substituiu as células estaminais sanguíneas nos camundongos por uma variedade que deu origem a um conjunto completo de glóbulos brancos humanos – incluindo todos os tipos de células T que combatem doenças.
Apenas seis horas depois de terem sido picados, os cobaias estavam a produzir mais células T citotóxicas, que atacam as células infetadas, e menos células T reguladoras, cujo principal objetivo é modular o sistema imunitário.
Um dia depois, as células T reguladoras estavam novamente em ascensão, enquanto outras células T diminuíram, indicando que uma resposta inflamatória contrária estava a diminuir o surto inicial.
Porém, uma semana depois, os resultados ficaram mais interessantes. A equipa notou que um tipo de célula T chamada de “duplo positivo” estava novamente a aparecer em níveis elevados no sangue, pele e medula óssea.
Além disso, as células T reguladoras também eram muito mais baixas, assim como outras células brancas, e uma análise a sinais químicos, chamados de citocinas, também apresentaram uma história complexa de atividade pró e anti-inflamatória nestes sete dias.
A saliva do mosquito é composta por centenas de proteínas diferentes, qualquer número das quais pareciam estar a manipular o sistema imunitário de uma forma que não fazia muito sentido, se o intuito era simplesmente lutar contra os agentes patogénicos esperados. Ou seja, era quase como se o sistema imunitário estivesse a oferecer ajuda.
“No contexto da infeção por arbovírus, a migração que observámos seria tarde demais para ter impacto na replicação inicial ou na disseminação do vírus”, concluem os cientistas no estudo publicado na PLOS Neglected Tropical Diseases. “Mas poderia permitir que as células infetadas voltassem à pele, onde poderiam transmitir o vírus a novos mosquitos”.
Existem boas razões para suspeitar que a saliva do mosquito pode ajudar alguns agentes patogénicos a infetar novos hospedeiros e a mover-se através de uma população, mas as evidências têm sido amplamente limitadas a modelos de cobaias, escreve o mesmo site.
O mapeamento dos comportamentos das células imunitárias humanas – mesmo que ainda estejam em cobaias – está um passo mais perto de entender como agentes infecciosos se aproveitam de vetores como os mosquitos.
Aproximadamente 750 mil pessoas morrem todos os anos por doenças que são comunicadas pela picada de um mosquito, um problema que tende piorar à medida que as alterações climáticas abrem novos territórios para essas doenças. A identificação de possíveis pontos fracos na cadeia de infeção pode apontar o caminho para novas formas de prevenção e tratamento.
Fonte: ZAP