Em Escamarão, Souselo, no concelho de Cinfães, uma obra de interesse público, realizada pela Câmara Municipal com intuito de beneficiar os moradores daquele lugar, está a se tornar no extremo oposto. Insatisfeitos, os mesmos afirmam que a obra apresenta sucessivos erros de execução, consequência de imperícia e incapacidade técnica das empreiteiras, e por esta razão, está a causar transtornos, constrangimentos e problemas diversos para a população do local.
Moradores estão insatisfeitos com o andamento das obras
O Jornal Paivense esteve no local e conversou com alguns moradores. Embora as queixas sejam diversas quanto à execução da obra, alguns temem sofrer retaliações caso reclamem ou se exponham. Por este motivo, as identidades dos denunciantes serão preservadas neste artigo: “se nós reclamamos, ouvimos do engenheiro da obra ou de pessoas ligadas à Câmara ameaças, a dizer que nosso passeio será o último a ser feito ou que podemos nos prejudicar, que as coisas podem ficar mais difíceis para nós se precisarmos de algo da parte deles”, referiu um morador.
Os moradores da rua São Miguel afirmam que têm convivido diariamente com a falta de perícia na realização das obras e transtornos diversos, como verguinhas expostas sem o protector no topo, pedras que ocasionalmente são abandonadas pelos operários a meio da rua e que ficam a bloquear a passagem de viaturas e o acesso ao cais de Escamarão, passeios desnivelados, guias de granito colocadas sem nenhum critério e que apresentam desnível, tamanhos e cortes aleatórios e folga entre as juntas, além de todo o pó que resulta desta obra e que não é assentado com água ao fim do dia.
Segundo um morador, um dos operários, ao ser questionado sobre sua experiência com obras, respondeu de maneira inusitada: “Ele disse que o encarregado da obra só tem experiencia com madeiras. Não percebe nada de trabalho com pedras. Isto é no mínimo inusitado. Já o filho do patrão, que anda cá pelas obras, nota-se um desconhecimento total sobre os trabalhos que andam a efectuar”.
Desdobramentos
Os denunciantes referem também que muitos buracos que foram deixados sem sinalização durante semanas e também afirmam que não foram criados, em detrimento das obras, acessos alternativos, sem ser em terra / lama para algumas habitações e comércios.
Além do recondicionamento da rua São Miguel, a obra contempla a reforma de um largo que está a frente da Igreja Românica de Escamarão, património histórico e cultural inserido na Rota do Românico: “aqui antes era um lugar de estacionamento, onde visitantes e clientes dos comércios locais podiam parar suas viaturas. Agora, com a reforma, apesar de provavelmente o resultado final ser um largo mais bonito, o engenheiro chefe da Inersel informou que haverão apenas sete lugares para estacionar: “como fica o comércio local e os moradores quando recebem visitas? Apesar dos ganhos estéticos, estão a sacrificar-nos. Não há outro lugar para estacionar em um raio de pelo menos 1km, a não ser o Cais de Escamarão, o que forçará clientes de comércios no inicio da rua a caminharem pelo menos 500m”.
Até mesmo o conhecido snacks bar que fica no Cais de Escamarão, o Douro Bar, sofreu com a baixa adesão durante o verão, como desdobramento das obras, que deveriam ter sido concluídas, segundo o edital, em junho deste ano: “este verão foi o mais fraco de movimento de sempre. Com a impossibilidade de vir cá ter, devido a bloqueios que duravam dias e pedras deixadas a meio da rua, o movimento caiu 60% em relação aos últimos verões, a resultar em menor movimento e prejuízos”.
O que diz a Câmara Municipal de Cinfães?
A CM de Cinfães nega haver qualquer irregularidade e diz que as obras seguem conforme o planeamento.