O concelho de Cinfães vive mais um difícil momento durante a pandemia da covid-19, tendo como epicentro no concelho a Santa Casa da Misericórdia que registou, ao início da noite desta quarta-feira, 55 casos positivos de covid-19, sendo 33 utentes e 22 funcionários, segundo a autarquia.
Em comunicado, a Câmara de Cinfães refere que, “no total, foram testadas 153 pessoas, aguardando-se os resultados de 32 pessoas, utentes da instituição em serviço de apoio domiciliário”. No entanto, o Jornal Paivense tem recebido denúncias desde o início da pandemia, no que respeita às condições de trabalho dos funcionários e o uso de equipamentos de proteção pelos mesmos, que foram desmentidas pela Misericórdia de Cinfães, que apontavam para uma situação diferente da que era propagada, de que não haviam casos na unidade de saúde de covid-19.
A cinfanense Ana Leitão tem denunciado a situação da pandemia da covid-19 em Cinfães através das redes sociais. Ana tem um parente internado na unidade e afirma que há falta de informações por parte da instituição. Em entrevista ao Jornal Paivense, ela refere sobre o que está a viver e sua posição sobre os factos que tomaram os noticiários em nível nacional na manhã desta quinta feira. Confira a entrevista:
Jornal Paivense: Como está a situação da covid-19 em Cinfães na realidade?
Ana Leitão: Até agora, segundo as fontes oficiais do município, haverá 57 casos positivos na instituição Santa Casa da Misericórdia de Cinfaes. Uma vez que os números ainda não foram atualizados no boletim diário da DGS, é apenas está a informação que temos. Estes números tem de ser analisados e confrontados com a realidade desta instituição. Contrariamente ao que foi já veiculado, os casos positivos não podem ser apenas de utentes e funcionários do “lar novo” da instituição, uma vez que este, por si só, não tem as 57 pessoas. Desconhecemos agora se os restantes casos são no “lar antigo” ou também na UCC da mesma instituição. Além disso, a preocupação volta se agora para os testes feitos aos utentes do apoio domiciliário cujos resultados ainda não se conhecem, alegadamente. Estes, dando positivo, podem significar ainda mais cadeias de transmissão ativas e ainda mais razões para a preocupação coletiva que vai crescendo no concelho.
Como é ter um parente internado na Misericórdia de Cinfães diante de todo este quadro de pandemia? Acreditas que há a tentativa de ocultar dados sobre a pandemia no concelho de Cinfães? Por que há negativa da Misericórdia sobre o número de infetados entre os internados?
Até ontem, a Santa Casa da Misericórdia e demais instituições locais mantiveram-se em silêncios quase absolutos, muito perturbadores para nós, familiares. As primeiras informações veiculadas, além de escassas, não correspondiam, como verificamos mais tarde, à verdade e à realidade que se vivia na Instituição. Contrariando todas as práticas da boa conduta profissional e todas as obrigações legais a que estão sujeitos, a Santa Casa ocultou dos familiares a realização destes últimos testes, bem como as suspeitas de infeção depois do surgimento dos primeiros sintomas. Tomamos conhecimento da situação depois de relatos de utentes acerca do teste que tinham feito e da situação tensa que percebiam que se vivia no interior.
Às primeiras questões que foram colocadas, as confirmações só chegavam de forma oficiosa e não por quem de direito, que se manteve em silêncio até ontem, quando emite um comunicado que nada diz de concreto. Depois disso, volta a não haver comunicação e diálogo possível.
Como familiar direta, estou certa de que a comunicação, agora mais que nunca, devia ser o veículo primordial para fazermos face à situação.
Eu própria denunciei situações menos felizes que, certamente, potenciaram tudo o que está a acontecer. Reitero-as. Mas, neste momento, o mais importante era sermos informados e a comunicação poder existir de forma honesta e Franca e é portanto essa a situação que mais há a lamentar.
O que dizem os médicos e profissionais da saúde locais sobre a situação da covid-19 no concelho de Cinfães?
Segundo declarações de Graça Freitas hoje, teme-se que haja focos de infeção em várias casas do concelho, uma vez que persiste a incerteza sobre contactos com infetados nas últimas semanas. Acredito que as autoridades competentes estejam já a traçar um plano de ação e contingência, capaz de minimizar as consequências da situação que o concelho vive neste momento.
O facto de, nas primeiras 48h depois da exposição de casos positivos, e mesmo na semana anterior, quando as suspeitas já existiam, não ter havido uma informação e sensibilização à população pode, de facto, ter contribuído para os números que, esperamos, não se venham a revelar tão maus como podem ser. A desinformação e a ocultação não resolve nada e creio que todos aprendemos isso em outubro, com tudo o que aconteceu na China. Por isso, está finalmente na hora de pormos o concelho e todas as suas entidades a conversarem com os cinfanenses e, juntos, a fazermos o melhor.