Ao assinalarmos mais uma efeméride sobre o acidente que ficou conhecido como “A queda da ponte de Entre os Rios” são vários os sentimentos que nos vêm à flor da pele. Sintetizo alguns pontos de reflecção:
Em primeiro lugar, a memória de todos os que faleceram, todos os 59 cidadão anónimos que num final de dia morreram quando regressavam às suas casas. Todos merecem o respeito e consideração à sua alma e devemos assegurar que a sua morte deixou-nos uma lição de vida;
Em segundo lugar, o respeito pelas família e amigos das vítimas. Neste ponto, o mais sensível, porque todos os anos, por esta altura as noites de sono são mais curtas, o pensamento mais inquieto e a ansiedade é maior. A exposição mediática deixou marcas, a ausência do luto completo deixou uma ferida que nunca ficará completamente cicatrizada;
Em terceiro lugar, para os autarcas que viveram o acidente da forma mais próxima. Nesta temática alguns afirmarão que poderá ter havido algum aproveitamento político que possa ter existido que justificou uma vitória esmagadora nas autárquicas, mas há mais que isso. Há uma proximidade que ficou latente entre o poder político nacional e o local.
Em quarto lugar, o poder político central começou a olhar para os meios locais de outra forma, com mais proximidade e consciencializou-se da necessidade de descentralizar.
Em quinto lugar, o desaproveitamento político local. Se, por um lado, alguns afirmaram que houve aproveitamento político com a mediatização de ilustres figuras conterrâneas, é certo que Castelo de Paiva não beneficiou com essa mediatização, vejamos:
O desenvolvimento local sofreu um duro golpe com o encerramento da fábrica de calçado C&J Clark’s meses mais tarde, as principais vias de comunicação continuam distantes, havendo uma réstia de esperança com a gestão de Pedro Marques.
Em sexto lugar, a cobertura jornalística deixou muito a desejar com a exploração de sentimentos e a exposição da dor barata em troca das audiências. Quando pensamos que a situação se inverteu, recordemos a tragédia de Pedrogão no verão passado.
Em sétimo lugar, não menos importante, todas as equipas que trabalharam no apoio e socorrismo em Castelo de Paiva. Foram centenas de pessoas de várias instituições: dezenas de corporações de Bombeiros Voluntários e Sapadores, GNR, Marinha, Exército, Cruz Vermelha, Cáritas, psicólogos, psiquiatras, assistentes socias, voluntários de vária ordem e natureza. Nunca é demais recordar o empenho de todas estas pessoas.
Em oitavo lugar, a criação de uma IPSS com apoio social a crianças e jovens. Estando em voga as polémicas em torno das IPSS, é certo que ajudar crianças e jovens em risco é por si só um ato nobre e digno de registo.
Por fim, convém lembrar a todas as pessoas qual o fundamento desta efeméride: lembrar os que partiram e consciencializar que nunca deverá repetir-se.
4 de março de 2001, apesar de parecer que foi ontem, foi à 17 anos!
Manuel Mendes
- Espaço livre para publicações de crónicas e poemas. Os textos não são editados nem alterados.
- A responsabilidade pelo texto aqui redigido é inteiramente do autor e seu envio é registado via assinatura digital.
- Tens uma crónica ou um poema? Enviem-nos para info@paivense.pt ou por mensagem em nossa página no Facebook