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Home Crónicas

Crónica: NÃO SOMOS MAIS SILÊNCIO

21 de Fevereiro de 2018
Reading Time: 5 mins read
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Crónica: NÃO SOMOS MAIS SILÊNCIO

Foto: Sal Ricardo

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Escrevo a mim e a você com espanto e orgulho.

Mulheres ainda estão vivas. Há uma volúpia em sermos gente, que ultrapassamos tudo e todos. Resistimos.Resisto. Resistiremos.

Não somos mais silêncio,

Estamos saindo da impotência fortes como nunca na História da Humanidade. Grande parte das mulheres são  abusadas. Isso é normal, como o sol morre e nasce. Não precisamos de provas. Levante a mão aquela que nunca foi violentada por palavras, atos violentos  ao bel prazer do macho.

Não queremos mais esquecer o que fingimos esquecer.

Em casa, meu pai batia toda semana em minha mãe…Bióloga, Cientista, Professora, Mulher de casa, casou-se aos 33 anos. Independente, antes de casar foi submissa no casamento mesmo sendo provedora do lar.

Não somos mais medrosas. Abolimos o silencio.

Meu irmão e eu, aos 9 anos,tivemos que despir nossas roupas deitar de bruços na cama e apanhar de cinto até sangrar, porque não lavamos a louça do café..Não, não lembro a dor, mas da humilhação. Em casa todos nós apanhávamos de meu pai. Eu? a única a reagir e apanhava mais.Nunca consegui deixar de reagir.Personaidade. Poderia ficar quieta, apanhando como mamãe. A dor e rasgos emocionais advindos dos abusos de quem  amamos  nunca são digeridos emocionalmente a vida inteira. Abusadas por estranhos, nós mulheres, conseguimos cicatrizar melhor o sofrimento. Mas de quem amamos…jamais.

Aos 12 anos andei 4 quadras  para comprar linhas, para bordar. Na volta de volta para casa um homem, de terno veio me seguindo na outra calçada  e  senti sua voracidade.  Percebendo o perigo corri, ele correu, me pegou  braço :

-Te quero. Chutei sua perna com a força que veio da sobrevivência. Corri, entrei numa casa desconhecida. Ele esperou. Fiquei tremendo, cega, tiritando de frio, 4 horas, em pânico me salvei.

Não falei a minha mãe. Nem escrevi no diário. Humilhada, achei que a culpa era minha.

Não somos culpadas!

Aos 22 anos, querendo um Brasil melhor fui presa, na Ditadura, pela Operação Bandeirantes – OBAN – em São Paulo. Me vendo, menina, ainda presa por lutar por um Brasil justo, entrei em pânico:  não queria ser assassinada !Deus!! Ajudai-me! Torturada com sadismo, fui parar no pau de arara, Cruelmente  estuprada, sangrando, sem ar , sem luz nos olhos,não delatei colegas… sei lá porquê! Perdi 15 kilos em 20 dias. Sobrevivi aos canalhas, aos covardes, aos poderosos.

Hoje falo, escrevo sobre minhas dores, sem detalhes, para preservar frágil alma. Escrevo com cicatriz colada com cuspe. Se olhar fundo o Inferno surge  com uma lavra de vulcão ou  impotente cachoeira perpétua de dor.Dor.Dor.

Mas não somos mais silêncio!

Sim! Faço terapia. Sim! Escrevo, Pinto, Atuo, dou Palestras para Mulheres, Workshops para Atores, tudo para me salvar, tudo para não enlouquecer.

Escrevo a mim, a você, com espanto e orgulho.

Estou viva.

Há uma volúpia, hoje, em nós, para sermos respeitadas.

Resistimos. Resisto. Resistiremos.

Não somos mais silêncio.

Estamos saindo da impotência, sendo fortes como nunca na História da Humanidade. A maioria das mulheres sofrem abusos. Nessa sociedade é normal, como o Sol  morre e nasce. Não precisamos de provas. Levante a mão aquela que nunca foi violentada por palavras ou atos violentos, para o bel prazer do macho. Fora do Brasil ele seria preso, aqui… não fazem nada

Não queremos mais esquecer o que fingimos esquecer.

Meu pai batia sem dó em minha mãe. Bióloga, independente financeiramente, também, provedora do lar se submetia. Meu irmão e eu apanhávamos muito. Eu, a única a contestar. Nunca adiantou. Mas contestava.

​Não somos mais silêncio.

Um dia meu irmão e eu, com 9 anos,despimos nossas roupas, deitamos lado a lado, de bruços na cama e levamos chibatadas de cinto do meu pai até sangrar, porque não lavamos a louça do café.Não, não quero lembrar a dor, mas ainda continuo humilhada.Impotente.

A dor e rasgos n’alma resultado dos abusos de quem amamos nunca são digeridos na vida . Abusadas por estranhos conseguimos cicatrizar melhor o sofrimento. Mas de quem amamos…jamais.

Aos 12 anos andava 6 quadras, para comprar linhas, para bordar.Um dia um homem, de terno, me seguiu na outra calçada . Senti a voracidade e o coração aos pulos me fez correr, mas ele me pegou :

-Te quero. Chutei a virilha com a força da sobrevivência. Entrei em casa desconhecida. Ele esperou. Agachada  no jardim, tremendo, cega, tiritando de febre por 4 horas me salvei. Não falei a minha mãe. Nem escrevi no diário. Humilhada, doente, achei que era  culpada.

A maioria de nós tem uma história de abuso, para contar.

Não somos mais silencio

Aos 22 anos, lutando pelo ideal de um Brasil  justo fui presa, na Ditadura, pela Operação Bandeirantes – OBAN – em São Paulo. Menina…presa, porque queria justiça, para meu amado país iria ser assassinada ! Deus! Não queria morrer! Torturada sadicamente no pau de arara,desmaiei.  Mais uns dias  fui cruelmente  estuprada, sangrando, sem ar,com dores inimagináveis  não delatei colegas. Perdi 15 kilos em 20 dias. Sobrevivi  aos  covardes-poderosos.

Hoje  escrevo sobre dores, sem detalhes, para preservar  minha frágil alma. Escrevo com cicatrizes coladas com cuspe. Se olhar fundo o Inferno surge  lavra de vulcão anímico,  impotente cachoeira perpétua de dor.Dor.Dor.

E há mais a contar…porque nunc​a  parou ​de haver abusos, comigo ainda !

Não sinto saudades de mim, mas orgulho da minha saúde mental.

Faço terapia. Sou Atriz, Escritora, Artista Plástica, faço Palestras para Mulheres, Workshops para Atores, para me salvar, para não enlouquecer.​

Mas o que salva são meus filhos. Sou mãe. Dei vida. Por eles ainda estou aqui. Por eles.

Acabei de re-ver, ontem,” por acaso”, VOLVER de Almodóvar. Todas as mulheres, no filme abusadas por pai, maridos… Penélope Cruz abusada, pelo pai fica grávida, tem a filha: que é irmã e filha ao mesmo tempo.

A arte revela a vida.

A violência está dentro e fora de casa.

Vamos nos Reinaugurar.

Punir poderosos- covardes.

Não somos bruxas, nem fadas. Somos mães, filhas, irmãs, tias, mas jamais  objetos abusados no trabalho, em casa e na rua.

Nossa salvação, minhas irmãs é a Denúncia! A Punição!

Nossas mães irão dançar a Ciranda da Felicidade ao verem suas filhas, com a Força e União da Nova Mulher CONSCIENTE!

Não somos mais silencio

Vamos surpreender a nós  mesmas?  Vamos às Delegacias! Jornais! Mídias sociais! Não nos envergonhemos! Falemos ao mundo o mal que alguns covardes-poderosos fazem à maioria de nós!

Cláudia Alencar – Atriz brasileira


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