Tiago Petinga / Lusa
O ex-primeiro-ministro José Sócrates
Só à quarta tentativa é que o sorteio determinou que é o juiz Ivo Rosa quem fica à frente da Operação Marquês. Um problema informático atrasou o procedimento electrónico de distribuição do processo, mas a sorte veio a calhar ao juiz que é conhecido pela “frenética” capacidade de trabalho e pelos choques com o Ministério Público (MP).
Pela primeira vez, o sorteio electrónico de distribuição dos processos do Tribunal Central de Instrução Criminal (TIC) foi feito com a presença de jornalistas e até transmitido em directo por alguns canais de televisão. E não correu bem.
Um problema informático atrasou o procedimento electrónico de distribuição do processo, que bloqueou várias vezes, e só à quarta tentativa é que o algoritmo informático funcionou.
O sorteio acabou por colocar o juiz Ivo Rosa à frente da Operação Marquês na fase de instrução do processo. O juiz Carlos Alexandre fica assim de fora do caso que liderou durante a fase de investigação.
O cenário agrada a vários dos arguidos, designadamente a José Sócrates, que tentou por várias vezes afastar Carlos Alexandre do processo.
“Finalmente, há um juiz legal”, diz advogado de Sócrates
“Finalmente, neste processo, há um juiz legal e não um juiz escolhido pelo MP”, referiu o advogado de José Sócrates, João Araújo, em declarações aos jornalistas, após Ivo Rosa ter sido sorteado para a fase de instrução.
João Araújo disse sentir “grande conforto, porque foi cumprida a lei” e admitiu que “não gostaria que o juiz escolhido fosse Carlos Alexandre”, acusando-o de “parcialidade”.
A advogada de Carlos Santos Silva, Paula Lourenço, também disse ter ficado “satisfeita” por Carlos Alexandre não continuar com o caso, realçando “algumas irregularidades” cometidas por este juiz na fase de inquérito.
(dr) Sérgio Lemos / Correio da Manhã
Ivo Rosa, o juiz “frenético” que é odiado pelo MP
Juiz acusado de “boicotar” investigações do MP
Por outro lado, no seio do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) não terão ficado particularmente agradados com a sorte! É que Ivo Rosa “tem-se tornado cada vez mais incómodo entre os procuradores do DCIAP”, como nota a Visão num artigo de Janeiro passado, sustentando que têm surgido “queixas frequentes nos corredores sobre os seus alegados “boicotes” a investigações, sobretudo na área da criminalidade económico-financeira”.
A Sábado também realça que Ivo Rosa é “acusado de defender de forma demasiado acérrima os arguidos” e criticado por acreditar “nas provas científicas acima de tudo”. “Há quem o critique por tratar da mesma forma um crime de corrupção (onde são raras as provas directas) como um caso de homicídio (onde abundam as provas científicas)”, sustenta esta revista.
Certo é que Ivo Rosa é conhecido pela sua “capacidade de trabalhar com celeridade” e por um “ritmo” que “pode mesmo ser descrito como frenético“, sustenta a Sábado com base em testemunhos de funcionários que com ele trabalham.
Pelas mãos de Ivo Rosa passaram processos como a Operação Zeus, em que ilibou vários dos arguidos, e o caso de corrupção na TAP, com suspeitas de lavagem de dinheiro de figuras angolanas, em que não levou ninguém a julgamento.
Outro processo polémico liderado pelo juiz de instrução foi o das rendas da EDP em que chegou a acusar o MP de imparcialidade, recusando buscas ao ex-ministro Manuel Pinho por falta de evidências sólidas e impedindo o acesso aos dados bancários de António Mexia.
Foi no âmbito desse processo EDP que dois procuradores do DCIAP acusaram Ivo Rosa de favorecimento “injustificado aos arguidos”, pedindo ao Tribunal da Relação de Lisboa para o afastar do caso.
Na resposta, o juiz apresentou queixa contra os dois procuradores que foram alvo de um inquérito disciplinar do Conselho Superior do MP, como reportava a Visão no início do ano.
Os dois magistrados do MP acabaram por apresentar três incidentes de recusa contra Ivo Rosa alegando que existe “a percepção de que o juiz não será imparcial”, como refere ainda a Visão.
SV, ZAP //
Fonte: ZAP