O fundador e CEO da Web Summit não quer falar da polémica do apoio de 11 milhões de euros concedido pelo Estado português ao evento e até admite que o nosso país pode tornar-se “a casa permanente” da conferência tecnológica. Em ano de pandemia, será um mega-evento online e Paddy Cosgrove deixa um “conselho caviar” aos participantes.
Em entrevista ao Eco, Paddy Cosgrove, fundador e CEO da Web Summit, reforça que, “como empresa”, a conferência ficará “abaixo cerca de 30 milhões” e, portanto, estará “a perder uma grande quantidade de dinheiro” com o evento de 2020.
“Foi, obviamente, o ano mais difícil de sempre para nós, mas muitos negócios estão no mesmo barco”, salienta.
Uma ideia que surge na conversa depois de Cosgrove ter fugido da polémica gerada com o apoio de 11 milhões de euros do Estado português ao evento que recebeu críticas dos partidos políticos da oposição.
“É importante que, em qualquer democracia, exista uma oposição vibrante que desafie o Governo. Mas é política doméstica, não é algo em que me envolva e não quero ser visto a criticar um partido político na sua visão sobre outro”, salienta Cosgrove.
O CEO da Web Summit também classifica como “rumores” a possibilidade de uma mudança para Espanha, mas nota que os nossos vizinhos “ofereceram muito mais dinheiro do que Portugal” para acolher o evento.
“Não pensámos em nada do género desde que decidimos que Portugal ia tornar-se a nossa casa até 2028. Talvez a casa permanente do Web Summit“, vinca também Cosgrove, negando que tenha alguma vez surgido, até agora, a possibilidade de mudança para outro país.
Cosgrove aponta como “sonho” ter “mais de 100 mil pessoas em Lisboa em 2022”.
“Oxalá haja hotéis e Airbnb’s disponíveis para isso, sei que Lisboa fica muito movimentada durante os dias do Web Summit, não é agradável usar o metro, por exemplo, na semana do evento”, realça ainda no que pode ser visto como uma crítica política às condições proporcionadas pelo nosso país.
Plataforma online focada na “interação e networking”
A Web Summit 2020 arranca na próxima quarta-feira, 2 de Dezembro, em formato totalmente digital. Será uma mega-operação digital que acarretou um enorme desafio de “construir uma conferência online gigante”, reforça Cosgrove no Eco.
“É fácil fazer pequenas conferências online, há software para isso, mas numa grande grande escala é realmente complicado e muito caro”, sustenta, apontando que o mais complicado foi “persuadir a equipa” de que podiam “construir uma plataforma boa o suficiente para produzir um evento a que assistissem 10 mil, 15 mil ou, de facto, 100 mil pessoas”.
A pandemia “foi uma enorme curva de aprendizagem“, considera assim Cosgrove.
Mas o investimento pode revelar-se proveitoso, uma vez que já “ofereceram 6,5 milhões de euros para usar a plataforma”, revela Cosgrove. “Mas, em 2021, quando estiver pronta para ser usada por outras conferências de grande dimensão, vamos torná-la gratuita para ser usada”, assegura.
O principal foco da equipa de desenvolvimento da plataforma foi na “interação e networking”, nomeadamente na funcionalidade “Mingle”, explica Cosgrove, revelando como é que esta opção funciona. “A cada três minutos, o algoritmo liga um participante a pessoas que acha que tu devias conhecer, outras vezes é-te atribuída uma pessoa totalmente ao acaso, quem sabe se podes encontrar uma conexão”, conta.
Outra funcionalidade é o “One to one” que permite o agendamento de reuniões e o envio de mensagens. E há ainda “Small rooms” para sessões de perguntas e respostas, mesas redondas e conferências de imprensa.
Cosgrove destaca no Eco que “estão marcadas mais de um milhão de reuniões” e que o formato online permite conhecer “mais gente” e de forma “mais rápida”. Todavia, “a qualidade da interacção” seria melhor presencialmente, diz.
“O número de encontros na plataforma cresce mas a qualidade diminui. Ainda assim é melhor do que nada”, reforça.
“O meu “conselho-caviar” para as pessoas que vêm ao Web Summit é que não há garantia de que conseguirás investimento porque é altamente competitivo. Mas é como a maioria dos adolescentes sonharem ser jogadores de futebol profissionais, e termos milhões de corações que se partem todos os anos quando esses miúdos percebem que não serão bons o suficiente para jogar”, destaca.
Certo é que esta Web Summit será “mais diversa do que nunca”, com “mais speakers do mundo do desporto, como a Serena Williams, mais políticos do que nunca, mais ministros e primeiros-ministros”, com “12 comissários europeus, mais media internacional” com a presença dos directores do The Wall Street Journal, da Bloomberg ou da Economist, conclui Cosgrove.
Fonte: ZAP