José Sena Goulão / Lusa
O ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, com o primeiro-ministro António Costa.
A polémica das relações familiares no Governo socialista domina a actualidade política nacional. Mas está longe de ser uma realidade exclusiva do Executivo de António Costa. No tempo de Cavaco Silva, havia 13 mulheres e 3 irmãs de elementos do seu segundo Governo nomeadas. E até na GNR há casos de ligações familiares.
Após estalar a polémica com as nomeações de familiares no Governo de António Costa, a jornalista Ana Leal da TVI descobriu que há uma teia semelhante na Guarda Nacional Republicana (GNR).
A investigação levada a cabo pela estação apurou que há “situações de favorecimento às famílias das mais altas patentes da GNR, com o conhecimento do ministro da Administração Interna”, Eduardo Cabrita.
Eduardo Cabrita é um dos nomes do Governo do PS que surge na teia das relações familiares, já que é casado com a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.
Na GNR, “há casos de mulheres e filhas de coronéis que entraram directamente para os quadros da GNR, passando à frente de militares de carreira, altamente qualificados”, avança a TVI.
As “mulheres do próximo” do Governo de Cavaco
A temática dos laços familiares no Governo do PS levou Cavaco Silva a fazer uma das suas raras intervenções públicas, desde que deixou a Presidência da República, para criticar a “prática de ‘jobs for the boys’” e falar em situações “indecorosas”. Mas o antigo primeiro-ministro esqueceu-se da nomeação de 13 mulheres e de 3 irmãs de elementos do seu segundo Governo.
Este dado foi relembrado pela secretária-adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, numa intervenção num debate na SIC Notícias, onde lembrou uma investigação do extinto jornal “O Independente”, na edição de 7 de Fevereiro de 1992, quando Paulo Portas era o director.
Intitulado “A Mulher do Próximo”, o artigo realçava que havia 15 familiares de governantes no Executivo de Cavaco que governava com maioria absoluta. O site Polígrafo fala de uma “nomeação em série” de mulheres de ministros e de secretários de Estado.
Sofia Marques Mendes, mulher de Marques Mendes, uma das grandes figuras do PSD de Cavaco que era, na altura, Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, era adjunta do secretário de Estado da Agricultura, Álvaro Amaro. Tinha sido professora, com uma licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas.
Maria dos Anjos Nogueira, mulher do ministro da Presidência e da Defesa Nacional, Fernando Nogueira, era adjunta do secretário de Estado da Saúde, José Martins Nunes.
Fátima Dias Loureiro, mulher do ministro da Administração Interna, Dias Loureiro, era adjunta de Pedro Santana Lopes, o Secretário de Estado da Cultura.
Margarida Cunha, mulher do ministro da Agricultura, Arlindo Cunha, era secretária do ministro dos Assuntos Parlamentares, Couto dos Santos.
Maria Filomena de Sousa Encarnação, mulher do secretário de Estado Adjunto da Administração Interna, Carlos Encarnação, era adjunta do sub-secretário de Estado da Cultura, António Sousa Lara.
Maria Cândida Menezes, mulher de Luís Filipe Menezes que era então secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, era secretária de Fernando Nogueira.
Celeste Amaro, mulher do secretário de Estado da Agricultura, foi nomeada para vogal da direcção dos serviços sociais da Presidência do Conselho de Ministros.
A ex-ministra de Passos, Paula Teixeira da Cruz, era, no segundo Governo de Cavaco, assessora de Marques Mendes. Já o seu marido, Paulo Teixeira Pinto, foi nomeado sub-secretário de Estado da pasta tutelada pelo mesmo Marques Mendes.
Regina Estácio Marques, mulher de Pedro Estácio Marques que era assessor de Cavaco Silva, era secretária do secretário de Estado Adjunto da Administração Interna.
O casal Fátima Loureiro e Carlos Loureiro integrava o ministério da Administração Interna.
Eduarda Honorato Ferreira, responsável pela agenda do Ministro das Finanças, era irmã do chefe de gabinete de Cavaco Silva, José Honorato Ferreira.
Isabel Elias da Costa, mulher do secretário de Estado das Finanças, Elias da Costa, era adjunta de Couto dos Santos. E a secretária do ministro dos Assuntos Parlamentares, Teresa Corte Real Silva Pinto, era irmã da secretária de Estado da Modernização Administrativa, Isabel Corte Real.
Isabel Ataíde Cordeiro, adjunta da secretária de Estado do Desenvolvimento e Planeamento Regional, Isabel Mota, era mulher do chefe de gabinete do secretário de Estado da Cultura, Manuel Falcão. Mas ela chegou primeiro ao cargo do que o marido chegou ao Governo.
Margarida Durão Barroso, mulher do então secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Durão Barroso, foi nomeada para a Comissão dos Descobrimentos.
Costa ordena análise às relações familiares
Com a polémica a ser muito negativa para a imagem do PS, tanto mais em ano de eleições, os socialistas consideram que está em causa “uma campanha negra” com vista a prejudicar o partido nas urnas, como repara o Público.
A teia de casos já levou à primeira baixa com a demissão do Secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, que nomeou o primo como seu adjunto.
Entretanto, o primeiro-ministro ordenou que seja feita uma análise interna às ligações familiares no seio do Executivo para perceber se haverá mais casos, como reporta o Observador.
SV, ZAP //
Fonte: ZAP