O Governo deverá aprovar hoje as linhas orientadoras para ter, em 2022, uma unidade de saúde capaz de tratar anualmente 700 doentes com cancro recorrendo à física de partículas de alta energia.
A aprovação consta na ordem de trabalhos da reunião de hoje do Conselho de Ministros, dedicada ao conhecimento e à inovação, segundo o Ministério da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior.
O anúncio da criação de uma unidade de tratamento do cancro baseada na física nuclear foi feito em setembro pelo ministro da Ciência, Tecnologia e do Ensino Superior, Manuel Heitor, em declarações à Lusa, depois de ter participado em Viena, Áustria, na abertura da 61.ª Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
O projeto, para o qual foi criado um grupo de trabalho, formado nomeadamente por representantes do ministério, do Instituto Superior Técnico e do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, implica um investimento de 100 milhões de euros, que Manuel Heitor pensa poder ser suportado por fundos comunitários e por fundos reembolsáveis do Banco Europeu de Investimento.
Portugal espera congregar para este projeto, além da AIEA, o apoio do CERN – Organização Europeia para a Investigação Nuclear, que tem participação portuguesa, e da universidade norte-americana do Texas, com a qual reforçou a cooperação científica e tecnológica para as terapias oncológicas, uma vez que a cidade texana de Houston dispõe de uma unidade de tratamento de cancro com tecnologia nuclear de protões de alta energia.
De acordo com o ministro, esta tecnologia, que se baseia em feixes de protões de “alta intensidade”, é eficaz e tem menos efeitos secundários do que a quimioterapia e radioterapia, sendo igualmente utilizada com aplicações na oncologia na Alemanha, no Reino Unido e na Suíça.
A nova unidade de tratamento de doentes com cancro, do Serviço Nacional de Saúde, que o ministro espera poder estar instalada em 2022, poderá vir a funcionar no ‘campus’ tecnológico e nuclear do Instituto Superior Técnico, em Bobadela, Loures, aproveitando a “maior concentração de técnicos em ciências e tecnologias nucleares”.
No fundo, é “reorientar muita dessa capacidade para as terapias oncológicas”, acentuou na altura à Lusa, lembrando que a “possibilidade de formar mais técnicos” surgiu este ano letivo com a abertura de mais vagas no ensino superior em física, a pensar na aplicação médica.