O jogo Hunting Sniper, popular entre jogadores em diversos países, incluindo Portugal, encontra-se no centro de uma controvérsia. Muitos utilizadores têm relatado que, para se manterem competitivos, são frequentemente induzidos a gastar dinheiro real na compra de armas mais avançadas e no aumento da potência dos seus equipamentos. Estas práticas levantam dúvidas sobre possíveis violações da legislação portuguesa, em particular na área da proteção do consumidor e na proibição de práticas comerciais desleais ou abusivas.
O Dr. Anselmo Costa, especialista em crimes digitais, analisou o caso e destaca que estas práticas podem configurar infrações. “O que se descreve em Hunting Sniper pode apresentar características que violam o Código da Publicidade, o Regime das Cláusulas Contratuais Gerais e, em casos mais graves, pode até ser associado à prática de jogos de fortuna ou azar, que está regulada em Portugal”, explica o especialista.
O Que Diz a Legislação Portuguesa?
- Código da Publicidade e Lei de Defesa do Consumidor
- Práticas Comerciais Desleais: De acordo com o Decreto-Lei nº 57/2008, a utilização de métodos que induzam o consumidor a tomar decisões que não teria tomado em condições normais pode ser considerada prática comercial agressiva ou desleal. “Se o progresso no jogo depender exclusivamente de compras adicionais e o consumidor não for devidamente informado, poderá haver violação da lei”, afirma o Dr. Anselmo.
- Publicidade Enganosa: Caso as condições de progressão ou os benefícios de compra não sejam claramente informados, a prática pode ser enquadrada como publicidade enganosa, especialmente se levar os consumidores ao erro (art. 10º do Código da Publicidade).
- Regime das Cláusulas Contratuais Gerais (Decreto-Lei nº 446/85)
- Cláusulas Abusivas: A inclusão de termos contratuais que imponham desvantagens significativas para os jogadores, sem transparência ou consentimento explícito, pode ser considerada abusiva.
- Lei do Jogo (Decreto-Lei nº 422/89)
- Jogos de Fortuna ou Azar: “Se o sistema de compras funciona como uma aposta, onde os jogadores gastam dinheiro real para obter vantagens incertas, isso pode ser interpretado como um jogo de fortuna ou azar, o que é regulado e restrito em Portugal,” explica o especialista. Apenas entidades licenciadas podem oferecer este tipo de serviço.
- Proteção de Menores (Lei nº 147/99)
- Exploração de Públicos Vulneráveis: Caso o jogo seja direcionado ou acessível a menores de idade, práticas que induzam ao consumo podem ser interpretadas como exploração de uma audiência vulnerável, violando os direitos fundamentais das crianças e jovens.
Estratégia Comercial ou Exploração Abusiva?
Embora muitos jogos utilizem sistemas de compras internas como estratégia de monetização, a linha entre uma prática legítima e uma exploração abusiva pode ser ténue. “Se o jogador for pressionado a gastar continuamente para se manter competitivo, sem alternativas gratuitas claras, tal prática pode ser vista como exploração económica. Em Portugal, práticas comerciais desleais ou enganosas são punidas pela lei”, explica o Dr. Anselmo Costa.
O Que Podem Fazer os Consumidores?
Os utilizadores que se sintam lesados podem apresentar queixa junto da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) ou procurar aconselhamento jurídico. “É essencial que práticas abusivas sejam denunciadas para garantir a proteção dos consumidores e o cumprimento da legislação vigente”, conclui o Dr. Anselmo Costa.
O caso de Hunting Sniper serve como um alerta para que desenvolvedores adaptem as suas práticas às normas legais e para que os consumidores estejam atentos aos seus direitos. Em Portugal, a legislação é clara: jogos digitais não estão acima da lei e, quando ultrapassam os limites, podem enfrentar consequências legais e comerciais.