Paulo Cunha / Lusa
O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, conforta o presidente da Câmara Municipal de Pedrógão Grande, Valdemar Alves. à esquerda, o secretário de Estado da Administração Interna, Jorge Gomes
Não é por acaso que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa decidiram não interromper as férias para comparecer no centro de operações de combate aos incêndios. É que a presença de líderes políticos, embora possa levantar a moral dos operacionais, só atrapalha.
Esta conclusão consta do Relatório da Comissão Técnica Independente (CTI) que analisou as circunstâncias dos incêndios do ano passado, nomeadamente em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria.
Aquele documento constata que a “presença de altas autoridades perturba naturalmente os trabalhos do comando”, transcreve o jornal i na edição impressa desta terça-feira.
Em 2017, o comandante responsável pelo combate aos incêndios em Pedrógão Grande foi obrigado a interromper o seu trabalho por 20 vezes, dada a presença de responsáveis políticos, como constata o i.
A CTI atesta que “a participação de pessoas” que representam “entidades oficiais ou órgãos de comunicação social” ajuda a levantar a moral das equipas no terreno, mas de facto não acarreta “qualquer contributo” para o desenrolar efectivo das operações, nem para a “tomada de decisões”, como transcreve o i.
Assim, não é de estranhar que António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa continuem de férias, sem se terem apressado a correr para Monchique, onde continua a lavrar o incêndio mais dramático que assola o país nesta altura. Um comportamento que destoa com aquilo que se passou no ano passado, em Pedrógão Grande.
O primeiro-ministro usou o seu perfil no Twitter para notar que está em “contacto permanente” com o ministro da Administração Interna e com os autarcas para actualizações, análise e orientações sobre os incêndios.
“Deixo uma palavra de apoio a todos os agentes de protecção civil nas operações e de solidariedade às populações afectadas”, sublinha ainda António Costa.
Marcelo Rebelo de Sousa assumiu, por seu lado, que não se desloca a Monchique para não atrapalhar, lembrando que a CTI considerou como “um dos aspectos negativos” dos incêndios do ano passado a sua “ida ao terreno, porque teria perturbado as operações de resposta”.
O Presidente da República, que está de férias na região centro do país, nalgumas das zonas que foram afectadas pelos fogos no ano passado, nota que está “ao longo do dia em permanente contacto com o senhor ministro da Administração Interna” e “a acompanhar o que se passa”, conforme declarações divulgadas pela RTP3.
Marcelo também fala da resposta “brutal” ao incêndio de Monchique, frisando que “há uma diferença de meios muito significativa, meios aéreos por um lado, meios no terreno por outro lado, a forma de estrutura e de prevenção”, relativamente ao ano passado.
Fonte: ZAP