A China vai fazer a primeira tentativa desde os anos 70 de ir à Lua recolher rochas. A missão ficará a cargo da Chang’e 5, que será lançada esta terça-feira.
A Chang’e 5 vai realizar a missão lunar mais ambiciosa do país asiático até à data e marca a primeira vez em quatro décadas que um país tenta trazer rochas e destroços da Lua para a Terra.
Os quatro módulos da Chang’e 5 devem ser enviados para o Espaço esta terça-feira, a bordo do foguete Longa Marcha-5, a partir do centro de lançamento de Wenchang, na província de Hainan, extremo sul da China, de acordo com uma descrição da missão feita pela NASA. A Administração Espacial da China disse apenas que o lançamento está programado para o final de novembro.
A principal tarefa da missão é perfurar dois metros abaixo da superfície da Lua e recolher cerca de dois quilogramas de rochas e outros detritos para serem trazidos de volta à Terra, de acordo com a NASA. Esta seria a primeira oportunidade que os cientistas teriam para estudar o material lunar, desde as missões norte-americana e russa das décadas de 1960 e 1970.
A missão é “realmente desafiadora“, mas a China já conseguiu pousar por duas vezes na Lua com as missões Chang’e 3 e Chang’e 4 e mostrou com um teste da Chang’e 5, realizado em 2014, que pode fazer com que a cápsula volte à Terra, entrando novamente na atmosfera e aterrando na superfície terrestre, disse Jonathan McDowell, astrónomo do Centro de Astrofísica da Harvard-Smithsonian.
Agora só falta mostrar que pode recolher amostras e descolar novamente da Lua, disse McDowell. “Estou bastante otimista de que a China conseguirá fazê-lo”, sublinhou.
O módulo da Chang’e 5 só pode permanecer na lua por um dia lunar, ou cerca de 14 dias terrestres, porque não tem as unidades de aquecimento de radioisótopos que a atual sonda lunar na China, a Chang’e 4, possui, para resistir às noites gélidas da lua.
O módulo de pouso cavará em busca de materiais com uma broca e braço robótico. Os materiais serão transferidos para um elevador e movidos para a cápsula de retorno, que regressará à Terra.
A complexidade técnica do Chang’e 5, com os seus quatro componentes, torna-o “notável em muitos aspetos”, disse Joan Johnson-Freese, especialista em assuntos do Espaço do Colégio de Guerra Naval dos Estados Unidos. Se for bem-sucedido, pode ser um projeto replicado para recolher amostras em Marte ou mesmo para uma missão lunar tripulada, disse Johnson-Freese.
“A China está a revelar-se capaz de desenvolver e executar com sucesso programas sustentados em alta tecnologia, importantes para aumentar a sua influência regional e realizar parcerias potencialmente globais”, disse.
A missão, batizada em homenagem à deusa chinesa da lua Chang’e, está entre as mais ousadas da China desde que colocou um homem no espaço, pela primeira vez, em 2003, tornando-se a terceira nação a fazê-lo, depois dos Estados Unidos e da Rússia.
Embora muitas das conquistas anteriores do programa espacial da China, incluindo a construção de uma estação espacial experimental e a realização de uma caminhada espacial, reproduzam feitos alcançados por outros países anteriormente, o país está agora a progredir para a realização de feitos únicos.
A Chang’e 4 foi a primeira sonda a pousar no lado relativamente inexplorado da Lua, que não é visível a partir da Terra, e está a fornecer medições completas da exposição à radiação da superfície lunar, que são vitais para qualquer país que planeie enviar astronautas à Lua.
Em julho passado, a China tornou-se um dos três países a lançar uma missão a Marte, que vai procurar sinais de água no planeta vermelho. As autoridades chinesas dizem que a nave Tianwen 1 está em curso para chegar a Marte por volta de fevereiro.
Embora os Estados Unidos tenham seguido de perto os sucessos da China, é improvável que colaborem com o país, numa altura de crescentes tensões e desconfiança política, rivalidade militar e acusações de usurpação de tecnologia por parte da China.