Até 70% das doenças infecciosas que surgiram nos humanos nos últimos 30 anos tiveram origem em animais e foram causadas por patogénicos originados em animais domésticos ou selvagens. Agora, um relatório lança aos princípios básicos para prevenir uma pandemia futura.
Apesar dos números alarmantes, as pandemias não ocorrem com frequência, até pelo contrário, são raras. Contudo, em plena pandemia de covid-19 é importante que a população tenha noção destes perigos e pare de ignorar a potencial ameaça de doenças que se propagam da vida selvagem para os humanos.
Como já mostraram os surtos de doenças como a covid-19, Ébola ou VIH, os custos de lidar com os riscos são menores em comparação com o impacto que as pandemias podem ter nas vidas humanas e na economia mundial. À medida que as pessoas prejudicam os habitats naturais e intensificam a produção e o comércio de gado, o planeta corre cada vez mais o risco de surgimento de mais surtos.
Segundo Julia E. Fa, professora de biodiversidade e desenvolvimento humano na Manchester Metropolitan University, é possível prevenir, detetar e responder a futuras pandemias. O principal campo de batalha é o comércio de carne selvagem.
Num novo relatório apresentado durante a Conferência da Paisagem Global, foram analisados os conhecimentos mais recentes, e os investigadores presentes deixaram algumas recomendações sobre como a população estar um passo à frente da próxima pandemia. Para estes especialistas, um princípio básico de combate a possíveis pandemias passa por reduzir a venda de carnes provenientes de animais selvagens.
De acordo com o documento apresentado, quando a população urbana tem acesso carne selvagem, não são só as populações de animais que tendem a esgotar-se, é também provável que pelo menos uma pessoa que as consome seja infetada por um patogénico de origem selvagem, acabando depois por transmitir a doença ao resto da população.
Contudo, para reduzir a procura de carne selvagem nas cidades é preciso convencer as pessoas de que a carne selvagem é perigosa, e explicar-lhes que existem outras fontes alternativas de proteína, como frango e outras carnes domésticas.
Na opinião dos especialistas, nas regiões onde este comércio é legal, deveriam ser impostas proibições na venda de animais selvagens vivos. As proibições deviam ter como alvo animais que apresentam maior risco: morcegos, roedores e primatas.
Outra forma de diminuir as possibilidades da população mundial voltar a passar por uma pandemia seria dar ouvidos a especialistas em vida selvagem. Como se sabe a saúde humana, animal e ambiental estão intimamente conectadas. Médicos e veterinários discutem como prevenir os surtos e trabalham em conjunto para arranjar soluções.
No entanto, o relatório apresentado defende que é importante ter a colaboração de biólogos e pessoas que trabalham nos setores de silvicultura, vida selvagem e meio ambiente, como é o caso dos guardas florestais.
Atualmente, os sistemas de rastreamento de patogénicos emergentes no comércio de carne selvagem são quase inexistentes. “Apenas analisando de forma sustentável os habitats, avaliando-os quanto aos riscos de doenças de vários ângulos e controlando o comércio de vida selvagem, se pode esperar um progresso nas questões de saúde pública”, afirma Julia E. Fa.
Por fim, outra medida eficaz seria melhorar a legislação. Segundo o documento, isto significa regulamentar a prática na vida selvagem e, ao mesmo tempo, garantir que milhões de pessoas que dependem da carne selvagem para sobreviver tenham alternativas às quais recorrer.
No relatório também é realçada a importância de introduzir uma legislação, caso o comércio permaneça, que torne esta atividade o mais higiénica possível.
De acordo com o The Conversation, o mundo está a enfrentar uma situação de mudança que exige que cada país se adapte e se prepare para futuras pandemias. Estas medidas globais podem ajudar a população a entender melhor porque é que as doenças infecciosas surgem, e como detê-las.