Enquanto a China volta ao trabalho e promete encerrar a quarentena na província de Hubei, centro da pandemia de covid-19, mais dúvidas e críticas estão a ser levantadas sobre os dados oficiais que apontam para a diminuição radical de novas transmissões do novo coronavírus no país.
“Um terço do total dos testes positivos é assintomático e não está a ser incluído nos números oficiais”, afirmou Gary Liu, diretor-executivo do “South China Morning Post”, jornal com sede em Hong Kong, num evento online do TED esta quarta-feira (25). Ele explicou que seus jornalistas tiveram acesso a documentos e dados governamentais confidenciais que confirmam esta denúncia.
Na passada quarta-feira, a China tinha um total oficial de 81.285 casos de testes positivos, com 3.287 mortes. Nas últimas 24h, havia registrado 67 novos casos e 6 mortes, contra 5.210 novos casos na Itália e 683 mortes no mesmo período. Os dados são compilados pela World Meters.
Mais denúncias na China
Para além do “South China Morning Post”, outras fontes apontam para omissões nos números oficiais chineses. Uma estação pública de TV de Hong Kong afirmou na passada segunda-feira que os hospitais em Wuhan estavam a recusar a realização de testes da covid-19 em pacientes com sintomas. Outros relatos falam em liberação em massa de pacientes infetados antes da visita do presidente Xi Jinping à cidade, no começo do mês. Tudo isto para reduzir as estatísticas oficiais.
Coreia do Sul, Japão e Singapura incluem os testes positivos de assintomáticos em suas contas oficiais, como sugere a Organização Mundial de Saúde. Porém, países como Japão e Brasil deixaram de testar assintomáticos para dar prioridade aos sintomáticos.
Liu explicou que a definição do governo chinês para a contagem de casos confirmados do novo coronavírus mudou em 7 de fevereiro, quando o país parou de incluir os assintomáticos — pessoas cujos testes dão positivo para covid-19 mas não apresentam sintomas da doença, embora ainda possam transmitir o vírus para outros indivíduos. Calcula-se que mais de 43 mil pessoas tiveram resultado positivo para o novo coronavírus e estavam assintomáticas, ao final de fevereiro — quando o país já contabilizava quase 80 mil casos.
Ainda deve piorar antes de melhorar
Sobre a situação global da escalada da covid-19, Liu acredita que “vai piorar muito antes de começar a melhorar”. “Quando você olha para os dados dos países, fico muito preocupado com os EUA”, disse.
Ele lembra que, quando a China anunciou seu fechamento em 23 de janeiro, havia 830 casos confirmados no país, contra os mais de 13 mil casos nos EUA no dia 19 de março, quando o primeiro estado americano anunciou seu fechamento (Califórnia). Nova York, estado mais atingido até agora com quase 33 mil casos, fechou dois dias depois.
“Mesmo que os números na China não sejam exatamente precisos, é uma grande diferença”, disse.
Na quarta-feira, os EUA tinham total de 68.203 casos com 1.025 mortes. Nas últimas 24h, havia 13.347 novos casos e 245 mortes, incluindo 95 só de Nova York.