Os pais das crianças em tratamento com quimioterapia que foram fotografados nos corredores do Hospital de São João, no Porto, estão revoltados com as palavras do ministro das Finanças, Mário Centeno, que recusou “participar em debates sustentados em notícias de jornal”.
O porta-voz dos pais das crianças internadas ou em tratamento oncológico no Hospital de São João manifestou-se “indignado” com as declarações de Mário Centeno, que recusou “participar em debates sustentados em notícias de jornal que não correspondem à verdade”.
Questionado no Parlamento sobre as condições existentes na ala pediátrica de oncologia da unidade hospitalar, o ministro das Finanças optou por criticar “as notícias de jornal que não correspondem à verdade e que deturpam, utilizando fotografias de crianças, a verdade daquilo que se passa no São João”.
“Se continuamos a debater questões com esta relevância, com base em fotografias com legendas erradas não estamos a fazer um bom serviço aos cuidados pediátricos e à nação”, justificou Mário Centeno.
Em declarações ao Jornal de Notícias, Jorge Pires, porta-voz dos pais das crianças, mostra-se indignado e diz que “quem não falou a verdade foram os ministros, tanto o das Finanças como o da Saúde, que convido a visitar a unidade hospitalar como utentes para perceberem o que lá se passa e como são tratados os nossos filhos”.
“Foi com base em fotografias verdadeiras publicadas no JN que o caso foi denunciado e a situação como as crianças são tratadas melhorada”, acrescenta Jorge Pires.
No passado mês de abril, três famílias de crianças com cancro infantil denunciaram as condições em que os filhos estão a ser tratados no Hospital de São João, no Porto, onde são sujeitos a sessões de quimioterapia nos corredores da unidade hospitalar.
“As crianças acabam de fazer quimioterapia e têm de partilhar os elevadores com os caixotes de lixo. Além disso, os carrinhos de limpeza são colocados ao lado dos de comida”, contou na altura Jorge Pires, que dizia ter já enviado vários emails para a administração hospitalar.
Patrícia Ferraz, mãe de uma outra criança com doença oncológica, diz que quando os menores precisam de ser internados chegam a esperar quatro e cinco horas por uma ambulância “sem condições higiénicas” que os leve até ao Joãozinho, um percurso que se faz “em apenas alguns minutos”.
Outra mãe, Marlene Pinho, refere que se a situação na zona de quimioterapia no ambulatório “é caótica”, quando é preciso internar as crianças a situação é mil vezes mais grave. “Não se admite que as crianças em isolamento tenham quartos com buracos nas paredes.”
O presidente do Hospital de São João, António Oliveira e Silva, admitiu então que as condições do atendimento pediátrico são “indignas” e “miseráveis”, lamentando que a verba para a construção da nova unidade ainda não tenha sido desbloqueada.
Obras prometidas, mas entretanto adiadas para serem concretizadas até ao final da legislatura, acerca das quais Mário Centeno apenas referiu que “este investimento está a ser trabalhado, está a ser planeado, é um investimento de grande dimensão“.
Entretanto, realça Jorge Pires ao JN, o internamento ficou nos contentores. “Quando não há camas disponíveis, as crianças doentes são encaminhadas ou para a oncologia no corpo do edifício hospitalar ou para a pediatria normal”.
E como um mal nunca vem só, lamenta o porta-voz dos pais das crianças, o bloco operatório esteve no dia da inauguração fechado devido a uma praga de moscas“.
Fonte: ZAP