José Sena Goulão / Lusa
O Presidente da República, Cavaco Silva, acompanhado pelo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho
O ex-Presidente da República Cavaco Silva aplaude o facto de o ex-primeiro-ministro Passos Coelho estar também a escrever um livro e diz que sempre criticou a má tradição de em Portugal, os políticos não prestarem contas. Passos já prometeu “dizer e juntar” muitas coisas às memórias de Cavaco.
“Tem o meu total apoio, independentemente daquilo que ele escrever”, afirmou Cavaco Silva numa entrevista à rádio TSF a propósito do seu segundo livro de memórias, intitulado “Quinta-feira e outros dias”, que foi apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Passos Coelho disse que esta obra dá uma “contribuição muitíssimo relevante” para o entendimento dos tempos da ‘troika’, mas frisou que o livro “não diz tudo” e prometeu “dizer e juntar” muitas coisas no seu próprio livro, que diz estar a escrever.
Na TSF, Cavaco Silva destaca que sempre criticou “a má tradição em Portugal de os políticos não prestarem contas por aquilo que fazem”. Por isso, diz que se Passos Coelho escrever o seu livro, tem o seu “total apoio, independentemente do que ele escrever”.
“Tal como aquilo que eu conto – que foi o que se passou, são os factos – deve estar lá para que os portugueses saibam como actua o Presidente da República, independentemente de gostarmos ou não gostarmos do que está lá”, notou ainda.
No seu livro, Cavaco refere que Passos Coelho ameaçou demitir-se do Governo por mais do que uma vez. “Utilizei um batalhão de argumentos para demonstrar ao primeiro-ministro que não podia abandonar o navio”, refere o ex-Presidente da República.
Sobre as críticas que recebeu, nomeadamente de elementos do PS que o acusaram de falta de sentido de Estado, Cavaco diz que “já esperava”.
Garantindo que omitiu “tudo o que eram questões pessoais” e “tudo o que podia ferir o superior interesse nacional”, Cavaco assume que nunca pensou que “o Bloco de Esquerda e o PCP se curvassem” às decisões impostas pela ‘troika’, aceitando “o que criticavam com tanta violência no Governo de Passos Coelho”.
Cavaco “não diz tudo”, segundo Passos
Comentando o livro de Cavaco Silva, Passos Coelho frisou que “não diz tudo”, mas que “tudo o que diz” é importante para que se perceba o que se passou durante o período do Governo PSD/CDS que liderou.
“Terei muito para dizer e para juntar, em complemento do que agora fica conhecido”, referiu ainda, notando que esse acrescento “pode dar um contexto mais alargado de entendimento sobre aquilo que se passou no país nesses anos”.
Passos diz que guarda ainda desse período uma “memória muito viva” e constata a “excelente cooperação institucional” que manteve com Cavaco, assumindo contudo “discordâncias sensíveis sobre assuntos que eram relevantes”. “Isso não impediu que o país não tivesse beneficiado do relacionamento que eu considero ter sido impecável na altura”, sublinhou.
O ex-líder do PSD ainda disse não duvidar de que Cavaco “teve uma influência e um papel muito relevantes” para que Portugal tivesse conseguido ter uma ‘saída limpa’ do resgate financeiro.
Sobre o livro que está a escrever, Passos adiantou que não tem “pressa”, que ainda não está terminado, nem existe uma data para a sua publicação.
O ex-primeiro-ministro também garantiu que está “fora da actividade política e partidária” e que assim continuará.
Fonte: ZAP