As doenças crônicas não transmissíveis (como diabetes, obesidade, hipertensão e problemas cardiovasculares) continuam sendo um dos maiores desafios da medicina moderna e para enfrentá-las, pesquisadores buscam estratégias que não apenas tratem os sintomas, mas que também previnam seu surgimento e reduzam complicações a longo prazo.
Foi nesse cenário que a endocrinologista e neurocientista Dra. Jacy Maria Alves, em parceria com o cardiologista Dr. Rafael Marchetti, conduziu um estudo publicado na revista científica Open Minds International Journal.
A pesquisa analisou como a união entre a Medicina de Precisão e a Medicina do Estilo de Vida pode oferecer respostas mais eficazes e personalizadas para o cuidado em saúde.
Personalização é o caminho?
A Medicina de Precisão é baseada na análise de dados genéticos, epigenéticos, ambientais, comportamentais e clínicos de cada indivíduo. Essa abordagem permite identificar predisposições a determinadas condições e criar estratégias de tratamento de forma mais personalizada.
Já a Medicina do Estilo de Vida atua em pilares como alimentação, atividade física, sono, manejo do estresse, controle do uso de substâncias tóxicas, conexões sociais, promovendo hábitos saudáveis capazes de prevenir e, em alguns casos, até reverter algumas doenças. A abordagem é centrada no paciente, com estratégias de mudança comportamental fundamentadas em evidências, visando a adesão e a manutenção dos novos hábitos.
“Ao unirmos essas duas frentes, conseguimos ampliar a assertividade dos diagnósticos e oferecer intervenções personalizadas que realmente fazem diferença na vida do paciente”, explica a Dra. Jacy Maria Alves.
E complementa: ” Mesmo em indivíduos com alto risco genético, a adesão a hábitos saudáveis pode reduzir substancialmente, por exemplo, o risco de diabetes tipo 2 ou doença coronariana, reforçando a complementaridade entre biologia individual e comportamento”.
Mais do que prevenção, uma revolução no cuidado
De acordo com o estudo, a integração entre as duas áreas abre espaço para um modelo de saúde que vai além do tratamento convencional. Em vez de aplicar protocolos generalistas, médicos passam a considerar a individualidade biológica e o estilo de vida de cada paciente.
“O que enxergamos é um novo paradigma de cuidado. A combinação da Medicina de Precisão com a Medicina do Estilo de Vida permite atuar não apenas na prevenção, mas também no tratamento e em alguns casos até na reversão de condições crônicas”, afirma o Dr. Rafael Marchetti.
Embora o potencial seja evidente, é fundamental reconhecer que a convergência entre Medicina de Precisão e Medicina do Estilo de Vida ainda está em consolidação. A base científica avança rápido (da farmacogenômica aos escores poligênicos de risco, passando por biomarcadores multi-ômicos e pelo perfil do microbioma), mas a transição desse conhecimento para protocolos clínicos amplos e padronizados ainda exige etapas importantes.
Em algumas frentes, já há aplicações com respaldo de diretrizes e resultados consistentes na prática; em outras, seguimos em fase de validação, o que demanda padronização de métodos, avaliação de custo-efetividade, reprodutibilidade entre populações diversas e, sobretudo, estudos robustos com desfechos clínicos relevantes. Em suma, estamos apenas começando a delinear com mais precisão quando, para quem e em quais contextos essas ferramentas entregam valor mensurável no cuidado real, de acordo com a Dra. Jacy Maria Alves.
Desafios e impactos sociais
O estudo também aponta os desafios que acompanham esse avanço. Entre eles estão os custos ainda elevados de exames genéticos, questões éticas relacionadas ao uso de dados pessoais e a necessidade de políticas públicas que ampliem o acesso a esse tipo de abordagem.
Mesmo assim, os autores destacam que os benefícios superam as barreiras. Essa integração pode reduzir gastos a longo prazo no sistema de saúde, já que previne complicações, evita hospitalizações e melhora a qualidade de vida dos pacientes.
“Estamos diante de um momento na medicina que é a oportunidade de unir ciência de ponta e mudanças de hábito, que é a base real da medicina, para oferecer saúde com mais qualidade e longevidade”, conclui a Dra. Jacy Maria Alves.