Associações e movimentos voluntários plantaram mais de 270 mil árvores, como sobreiro, carvalho ou azinheira, em 2017, esforço de reflorestação que se acentuou depois dos grandes incêndios de junho e outubro, criando dificuldade de resposta dos viveiros.
Segundo dados da associação ambientalista Quercus, uma das entidades com mais iniciativas neste sentido, um dos programas desenvolvidos foi o Floresta Comum, que envolveu a plantação de 201,6 mil árvores, e outro o Criar Bosques, com 9,8 mil unidades financiadas através de campanhas apoiadas por empresas.
Além das árvores já plantadas, muitas outras foram conseguidas para serem colocadas na terra este ano.
As plantações efetuam-se essencialmente em duas alturas do ano – em março e em outubro -, por isso, as árvores conseguidas nos últimos meses de 2017 serão colocadas na terra a partir de março.
Outra ação, Uma Árvore pela Floresta, vai na quarta edição e, se nos primeiros anos envolvia duas a três mil plantas, depois dos incêndios do Funchal “aumentou um bocado, para cerca de cinco mil, mas no ano passado atingiu 60 mil, aumentando principalmente depois dos incêndios de 15 de outubro”, disse à agência Lusa a vice-presidente da Quercus, Paula Nunes da Silva.
“Os números dispararam, pois a sensibilização das pessoas depois dos grandes incêndios de 2017 foi muito maior”, resumiu.
A Quercus refere que as plantações da campanha Uma Árvore pela Floresta decorreram na Serra do Alvão, no Monte Barata e na Serra da Estrela, com medronheiro, teixo, carvalho negral e carvalho roble.
A Floresta Comum funciona em parceria com o Instituto de Conservação e Florestas (ICNF) e baseia-se em candidaturas de entidades, um júri analisa as propostas e atribui as plantas.
“Foram cerca de 200 mil árvores produzidas nos viveiros do ICNF” relacionadas com este projeto, referiu a ambientalista.
Quanto ao Criar Bosques, “recebeu várias solicitações, como a campanha dos CTT, com 60 mil árvores, a campanha do El Corte Ingles, com 10 mil árvores”, referiu Paula Nunes da Silva.
A estas empresas juntam-se outras entidades e particulares que “deram donativos e vamos proceder às plantações”, avança a responsável da Quercus.
“Apostamos muito no sobreiro e na azinheira, mas também destaco o carvalho, o medronheiro e o pinheiro manso”, listou Paula Nunes da Silva.
No entanto, apontou a dependência das disponibilidades dos viveiros. “Este ano, por exemplo, o viveiro da Malcata, do Estado, já esgotou as árvores disponíveis, vamos ter de optar por outros viveiros, como Amarante ou Valverde, e ir buscar a alguns privados”, explicou.
Em resposta a questões da Lusa sobre as iniciativas de reflorestação, no ano passado, a Liga para a Proteção da Natureza (LPN) aponta vários exemplos de apoio a ações de plantação, não só de árvores, mas também de outras plantas, como foi o caso dos mais de dois mil arbustos de espécies autóctones, como zimbros, carrascos e alecrim, no concelho de Vila do Bispo, no Algarve.
Esta iniciativa juntou voluntários de várias associações numa ação de requalificação do acesso à praia do Telheiro, um geossítio de referência nacional inserido no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.
Não para plantar, mas para controlar espécies exóticas infestantes na Mata Nacional da Machada, no Barreiro, a LPN apoiou uma iniciativa da associação Plantar uma Árvore e, no concelho de Mértola, no Alentejo, participou numa ação simbólica de plantação de loendros junto à Ribeira do Vascão, um dos últimos refúgios do saramugo, um dos peixes de água doce mais ameaçados da Península Ibérica.
Contactada pela Lusa, a Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, refere não ter efetuado qualquer atividade em 2017 nesta área, mas ver “com muito agrado o surgimento de muitas iniciativas da sociedade civil, dos organismos públicos e das autarquias para arborização ou rearborização com espécies autóctones”.
Aconselha, no entanto, os cidadãos e as entidades financiadoras a verificarem “se existem compromissos ou garantias de que as árvores e arbustos plantados são monitorizados e mantidos nos anos seguintes”.
A Zero explica que a mortalidade neste tipo de plantações “é, por norma, muito elevada, sendo que as alterações climáticas em curso tenderão a agravar o problema”.