A empresa que em 2017 surpreendeu o país com uma avaliação astronómica de quase 29 mil milhões de euros, já publicou as contas de 2018. Continua sem vendas e a dar prejuízo – mas já tem 175 trabalhadores.
Há dois anos, a Yupida foi empresa-sensação, quando se soube que esta sociedade, fundada no verão de 2015, se tinha convertido numa das maiores empresas do país, com mais capitais próprios que as gigantes da bolsa portuguesa, como a EDP, a Galp ou a Jerónimo Martins.
Dois anos depois, não há rasto da plataforma tecnológica anunciada pelos jovens portugueses que a criaram, mas a empresa acaba de publicar as suas contas do ano 2018.
A Yupido já tinha contas publicadas para o exercício de 2016, mas não divulgou os resultados de 2017. As contas de 2018, de acordo com o Expresso, revelam que no final do ano passado a Yupido somava um ativo de 28,77 mil milhões de euros – cerca de 14% do Produto Interno Bruto (PIB) português.
O valor do ativo permaneceu praticamente inalterado face aos valores de 2016. Porém, o que em 2016 estava contabilizado como dinheiro em caixa e depósitos bancários, no valor de 243,3 milhões de euros, reduziu-se em 2018 para 1400 euros (registados como depósito à ordem), enquanto a rubrica de ativos intangíveis cresceu exatos 243,3 milhões de euros, para 28,77 mil milhões.
A Yupido continuou longe de ter uma atividade operacional alinhada com a dimensão do ativo que alega deter. Nada faturou em vendas e prestações de serviços, contabilizou em 2018 fornecimentos e serviços externos de cerca de 3500 euros e fechou o ano com um prejuízo de 3879,24 euros.
Este ano, a Yupido indicou contar já com 175 trabalhadores, dos quais 133 homens e 42 mulheres. No final de 2016, era uma empresa sem quaisquer empregados. No entanto, a rubrica de gastos com pessoal está a zero. A administração da empresa mantém-se com Torcato Caridade da Silva e Cláudia Pereira Alves.
No início do mês de agosto, o Ministério Público decidiu arquivar a investigação à Yupido. Em 2015, quando a empresa foi criada, a primeira avaliação de 243 milhões de euros respeitava a um “activo intangível”, um “software de gestão para empresas que funciona em multiplataforma”:Os accionistas da empresa avançaram apenas com 35 mil euros em dinheiro.
A Yupido captou a atenção dos media em setembro de 2017, depois de o economista Carlos Pinto, atual líder do partido Iniciativa Liberal, ter divulgado na sua conta de Twitter o capital social desta startup tecnológica. O montante do capital social da empresa foi avaliado pelo revisor oficial de contas (ROC) independente António Alves da Silva, profissional com mais de 50 anos de carreira.
Em maio de 2018, o revisor oficial de contas que atribuiu o valor de 29 mil milhões à empresa foi suspenso pela Ordem dos ROC durante dois anos, depois de ter sido chumbado num processo administrativo de avaliação da idoneidade.
Fonte: ZAP