Na semana passada, o primeiro-ministro garantiu que a “receita” para resolver a crise não seria de austeridade, mas Costa prefere agora não se comprometer.
António Costa não exclui que venham a ser aplicadas medidas de austeridade em Portugal, após a pandemia de covid-19. A porta foi deixada entreaberta numa entrevista ao Expresso, publicada no sábado, na qual o governante assume que este é um momento de gastar, e não de contenção.
“Há um amanhã”, mas o futuro está em aberto. Esta é uma mudança de posição por parte do primeiro-ministro que, na semana passada, garantiu que não haveria austeridade, como em 2010.
“O país não precisa de austeridade, precisa de relançar a economia”, disse Costa, sublinhando, contudo, a “incerteza” que ainda existe em relação ao impacto da covid-19 nas contas públicas. Desta vez, o primeiro-ministro preferiu não se comprometer.
“Já ando nisto há muitos anos para não dar hoje uma resposta que amanhã não possa garantir. E acho que há um fator fundamental para sairmos desta crise, que é mantermos confiança. E a confiança tem de assentar em todos percebermos qual é o grau de incerteza em que vivemos e qual é o grau de compromisso que podemos assumir“, justificou.
A 11 de abril, em entrevista à Lusa, Costa disse que os portugueses podiam estar “seguros de que não adotarei a mesma receita, não só porque já na altura não acreditei nela, como, sobretudo, porque a doença agora é claramente distinta da anterior”.
“Não há atualmente uma doença das finanças do Estado, que, felizmente, conseguiu sanear as suas finanças públicas. Esta crise é uma crise económica, global, que resulta de uma crise sanitária. Portanto, querer aplicar a mesma receita que já se demonstrou errada há dez anos seria agora duplamente errado”, sustentou, na altura, António Costa.
Uma semana depois, o primeiro-ministro mudou o tom do seu discurso e adotou a cautela. O que terá mudado para Costa não se comprometer agora, como se comprometeu na semana passada, não se sabe.
Certo é que, neste intervalo de tempo, o ministro das Finanças antecipou uma recessão próxima dos dois dígitos para 2020, o FMI adiantou que a dívida pública será equivalente a 135% do PIB e António Costa teve uma reunião com as instituições independentes e vários economistas.
Fonte: ZAP