Milhares de ossos de rapazes e homens, que terão sido chacinados numa batalha há 2000 anos, são a prova que faltava da violência que se vivia nas tribos e povos germânicos, nos tempos áureos do Império Romano.
Estes vestígios humanos foram encontrados numa zona pantanosa do Vale do Rio Ilerup, em Alken Enge, na Península dinamarqueca de Jutland, e ilustram o que terá sido a chacina de cerca de 400 homens, numa batalha misteriosa.
Os restos de cerca de 2100 ossos que foram encontrados e estudados por investigadores da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, serão de tribos germânicas e ajudam a compreender melhor estes povos que eram conhecidos como bárbaros, nos tempos áureos do Império Romano.
A investigação em torno destes vestígios arqueológicos acaba de ser publicada no Proceedings of the National Academy of Sciences, com os autores da pesquisa a realçarem que podem ser a prova que faltava da “ferocidade das tribos e povos germânicos” e do seu “comportamento extremamente violento e ritualizado, no rescaldo da guerra”.
Até ao momento, foi possível determinar que os ossos encontrados em Alken Enge pertencem a 82 pessoas diferentes, todas do sexo masculino, com idades prováveis entre os 13 e os 60 anos. Mas os investigadores concluíram que os vestígios representarão, no total, cerca de 400 pessoas.
Estamos a falar de uma população que “excede significativamente a escala de qualquer comunidade conhecida de aldeia da Idade do Ferro”, salienta-se no estudo. Um dado que indicia que os homens e rapazes chacinados terão sido recrutados numa área abrangente, para participarem numa batalha contra um inimigo comum, apontam os investigadores.
A análise por radio-carbono permitiu situar os ossos no período entre 2 Antes de Cristo e 54 Depois de Cristo, ou seja, algures entre os reinos dos Imperadores Romanos Augustus e Claudius, como refere o Live Science.
Naquela época, os Romanos alargaram o seu Império até ao Norte da Europa, encontrando particular resistência nas tribos que viviam no território onde são hoje a Dinamarca e a Alemanha. Eram também tempos de batalhas frequentes entre tribos.
Os vestígios de Alken Enge serão sinais de uma dessas batalhas tribais, como atestam também as armas encontradas, entre as quais machados e espadas, espalhadas pelo local.
Por essa altura, há registos de uma dura derrota para os Romanos, com vários dos seus soldados mortos pelos germânicos. Os vestígios analisados podem ser resultado de “raides militares” dos Romanos, para “basicamente, punirem os bárbaros” pela derrota, refere a co-autora do estudo Mette Løvschal, em declarações citadas pelo Archaeology News Network.
“Não parecem ter muitos traumas curados, de experiências em batalhas anteriores. Podiam ter tido muito pouca experiência de batalha“, refere ainda a investigadora.
A pesquisa arqueológica considera que estes guerreiros inexperientes foram alvo de uma “matança abrangente”. Mas o que mais surpreende os investigadores é a forma como os esqueletos foram encontrados dispostos no terreno, acreditando que resulta de rituais funerários.
Os esqueletos terão sido depositados no que era um lago, depois de terem estado em decomposição ao ar livre durante entre seis meses a um ano. Cerca de 400 ossos tinham marcas de dentes, provavelmente de raposas, lobos e cães, refere-se no estudo.
A análise aos ossos permitiu também apurar que os órgãos internos dos corpos terão sido retirados, decompostos ou comidos (possivelmente por animais), antes de terem sido enterrados.
Foram também encontrados quatro ossos pélvicos enrolados em torno de um galho de árvore, um ritual que pode representar uma “humilhação sexual”, segundo Mette Løvschal.
Havia também vários crânios esmagados e os braços e pernas dos esqueletos estavam separados dos corpos.