A crise pandémica “será um choque para as economias”, mas “os choques podem criar oportunidades”. A análise é do economista Ricardo Reis, professor da London School of Economics, que também salienta como as políticas de austeridade ajudaram a conter os primeiros efeitos económicos da pandemia em Portugal.
“A política de austeridade, que nos últimos quatro ou cinco anos chamámos de contenção ou responsabilidade, permitiu-nos ter estímulos orçamentais“, considera o conceituado economista no programa “Da Capa à Contracapa” da Rádio Renascença (RR).
“Para quem questionou as cativações e outras artimanhas que permitiram ter austeridade com outro nome, por via do controlo do défice público nos últimos oito a nove anos, vê agora o resultado do sacrifício”, considera ainda o também presidente do Comité de Datação de Ciclos Económicos da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Ricardo Reis acredita que a segunda vaga de covid-19 não vai afectar tanto a economia portuguesa como a primeira, porque não deverá haver um confinamento generalizado, como o primeiro-ministro já anunciou.
Contudo, esta segunda vaga deve impedir uma recuperação rápida da economia já em 2021.
“É difícil adivinhar se vamos ter uma recuperação em ‘V’. É fácil de prever que haja um ressalto na economia simplesmente porque parar mais do que parámos em Março e Junho é impossível”, analisa o economista, considerando que “basta voltar a trabalhar mesmo em nova vaga de covid que a economia não vai sofrer tanto como sofreu”.
“Há aí um impulso de recuperação. Se vai ser refeito todo o caminho em 2021, é optimista”, considera porém.
Ricardo Reis acredita também que Portugal pode sair beneficiado com a crise pandémica, nalgumas áreas, nomeadamente com a generalização do teletrabalho.
“Receber os choques pode criar oportunidades, para desta vez tirarmos partido delas. Talvez seja uma oportunidade uma empresa se diversificar e instalar as suas fábricas em Portugal. E uma segunda oportunidade está na mudança para cada vez mais trabalho à distância”, constata.
“Os economistas falam das ‘economias da aglomeração’, as forças que levam a que a Alemanha e a França tenham vantagens competitivas por estarem próximas dos centros do mundo e que podem ser hoje menores. E assim um país periférico como Portugal beneficia”, acrescenta ainda o economista.
Contudo, Ricardo Reis destaca como pontos negativos a grande dependência externa de Portugal, pelo que uma possível crise financeira internacional complicará a retoma económica.
Fonte: ZAP