“A austeridade já cá está, à vista de toda a gente, excepto de quem não quiser ver”. O alerta é do economista Daniel Bessa que prevê tempos difíceis para a Banca e que avisa que quem preservar rendimentos vai ter que “contribuir pesadamente” durante a crise económica provocada pela pandemia de covid-19.
Em entrevista ao ECO, Daniel Bessa considera que o “Governo está a responder bem a esta crise”, elogiando especialmente as medidas do lay-off simplificado e das moratórias do crédito bancário.
Na óptica do economista, o Governo “faz o que pode e, quem faz o que pode, a mais não pode ser obrigado”. “Outros países, com outros meios (leia-se, com situações de finanças públicas menos deterioradas, nomeadamente a Alemanha), podem mais e, podendo mais, fazem muito mais ou, se preferir, respondem muito melhor a esta crise”, destaca Daniel Bessa.
O economista repara que Portugal tem “uma das maiores dívidas públicas do mundo“, o que complica a capacidade de responder à crise, tanto mais quando “estamos pior que numa situação de guerra”.
Comentando a ajuda de fundos comunitários, o também professor universitário refere que lhe “custa” que “Portugal não consiga olhar para a União Europeia senão como ‘uma caixa de esmolas‘”. “Quando a postura é esta, o dinheiro que nos chega da União Europeia nunca é suficiente” para “coisa nenhuma”, conclui.
É preciso “não nos fiarmos demasiado na Virgem, baixando a guarda em termos de prudência (para não termos, um dia destes, de voltar a bradar que “a culpa é da Senhora Merkel”, de forma ainda mais injusta do que na crise de 2011)”, alerta o economista.
Daniel Bessa também vinca que “a austeridade já cá está, à vista de toda a gente, excepto, como sempre, de quem não quiser ver (e de quem, como projecto político, recuse a solidariedade, como única forma de, também internamente, partilhar a austeridade)”.
“Quem mantiver rendimento terá de contribuir pesadamente”, avisa, prevendo também que a Banca vá enfrentar tempos difíceis por causa das moratórias e do crédito malparado.
O economista considera que é demasiado optimismo do Governo acreditar que a retoma vai acontecer já em 2021. O país só vai “regressar ao nível de 2019, na melhor das hipóteses, em 2022”, destaca.
Daniel Bessa também repara que o Estado pode ser o “detonador da falência” de restaurantes e hotéis e outros pequenos negócios, recomendando que é preciso “dar mais tempo às empresas [nomeadamente para pagar impostos] para evitar rupturas de tesouraria”.
Fonte: ZAP