O ministro das Finanças ficou mais longe do cargo de Governador do Banco de Portugal (BdP) na sequência da injecção de mais fundos públicos no Novo Banco. A opinião é partilhada por vários economistas que defendem que Mário Centeno “fez o que tinha de fazer”, apesar de, assim, se afastar “praticamente em definitivo” do cargo.
Esta ideia é revelada pelos economistas João Duque e Filipe Pinhal em declarações ao jornal Sol.
“Como é que António Costa vai meter uma pessoa com quem se pegou no Banco de Portugal? Para lhe fazer a vida negra“, constata João Duque, notando que “Centeno fez aquilo que qualquer pessoa honesta faz”. “Paga e não põe em causa a reputação da instituição que representa que é o Estado”, diz o economista, considerando que “o resto é folclore político“.
Centeno autorizou a transferência de 850 milhões de euros dos cofres do Estado para injectar no Novo Banco ao abrigo do contrato de venda da instituição financeira ao Fundo Lone Star, bem como cumprindo o que foi aprovado no Orçamento de Estado de 2020.
Mas, assim, terá ficado afastado do cargo de Governador do BdP “praticamente em definitivo”, como asseveram os economistas ao Sol.
“Não sei se são supersticiosos ou não, mas o dia 13 foi mesmo azarado para Marcelo, Costa e Rio, tudo acontecendo como postula a velhinha Lei de Murphy: se alguma coisa pode correr mal, correrá. E correrá da pior maneira, no pior momento e do modo que cause o maior dano possível”, analisa Filipe Pinhal no Sol.
“A partir de agora são capazes de fazer a vida negra a Mário Centeno“, considera ainda Filipe Pinhal que também acredita que o ministro viu goradas as suas possibilidades de rumar para o BdP já em Julho.
João Duque acredita que Centeno poderá chegar ao cargo dentro de cinco ou sete anos. “Ir directo do Ministério das Finanças para o BdP até seria promíscuo“, refere. Contudo, não seria nada de novo, tendo já acontecido no passado com figuras como Silva Lopes e Miguel Beleza que passaram da pasta das Finanças para o BdP.
Carlos Costa apadrinha Centeno como seu sucessor
Quem vê com bons olhos a ida de Centeno para o BdP é o actual Governador da instituição, Carlos Costa. “Tem todas as condições para ser um grande governador do BdP”, sustenta em entrevista ao Expresso.
Carlos Costa trata de fazer também um auto-elogio ao trabalho que realizou no BdP, notando que se chegar ao cargo, Centeno “vai receber uma máquina que está rejuvenescida, com muito maiores competências, com uma estruturação muito forte, com um sentido de missão e um foco muito claro”.
A relação entre Carlos Costa e Centeno tem sido descrita como “tensa” devido a factos ocorridos quando o actual ministro era um alto quadro do BdP. Nessa altura, candidatou-se a director do departamento de Estudos Económicos, mas acabou por ser chumbado por um júri, com Carlos Costa a validar esse chumbo.
O Governador desvaloriza o caso, salientando no Expresso que “não houve qualquer corte de relações ou qualquer menorização da capacidade científica e técnica do professor Mário Centeno, pelo contrário houve uma valorização“.
“Tínhamos grandes candidatos e todos eles foram devidamente valorizados na sua componente científica e académica. Não foram capazes de demonstrar as qualidades que se pretendiam em matéria de gestão de pessoas”, sustenta ainda Carlos Costa, realçando que, depois do chumbo para o cargo, “Centeno foi convidado” por si “para ser assessor ou consultor do Governador e nessa qualidade recebeu um mandato para promover uma conferência internacional”.
Carlos Costa também valida a transferência dos 850 milhões de euros para o Novo Banco, reportando-se às “obrigações que resultam do contrato”. “Se houvesse alguma forma de minimizar os custos para o Fundo de Resolução ele certamente teria estado muito atento”, nota o Governador sobre Centeno.
Fonte: ZAP