Uma misteriosa bola de fogo que explodiu sobre a Gronelândia poderia ajudar-nos a estudar a estrutura de mundos alienígenas distantes e cobertos de gelo.
Apesar de os primeiros dados terem demonstrado que a bola de fogo que explodiu sobre a Gronelândia era uma das mais energéticas de 2018, durante meses os cientistas não sabiam que implicações teria este meteorito.
A bola de fogo iluminou o céu noturno e fez o chão tremer no dia 25 de julho, mas a maior parte do mundo teve conhecimento deste evento passado uma semana, quando um cientista da NASA, Ron Baalke, informou no Twitter.
Mais tarde, também através do Twitter, Hans M. Kristensen, investigador de armas nucleares, adiantou que a explosão ocorreu muito perto da base da Força Aérea de Thule, na Gronelândia. No entanto, a Base Aérea manteve-se muito silenciosa em relação ao fenómeno.
Agora, graças a uma feliz coincidência de tempo e espaço, temos novas provas para interpretar o evento da bola de fogo.
Em maio, alguns meses antes da bola de fogo irromper nos céus, os cientistas instalaram um sistema sísmico a apenas 70 quilómetros de Qaanaaq, num projeto chamado “Sismómetro para Investigar Gelo e Estruturas do Oceano” (SIIOS).
O objetivo do projeto é usar sismómetros para medir como podem acontecer terramotos em mundos gelados e luas (como a lua gelada de Júpiter Europa), usando análogos baseados na Terra (como o gelo da Gronelândia).
Os cientistas afirmam que o que podemos aprender sobre as espessas crostas de gelo que cobrem esses ambientes pode ser a chave para encontrar água em futuras missões no Espaço. No entanto, a mesma infraestrutura pode também dar-nos uma visão única do que realmente aconteceu com a bola de fogo em Qaanaaq.
Num relatório apresentado na reunião anual da União de Geofísica Americana, em Washington, uma equipa liderada por Nicholas C. Schmer, da Universidade de Maryland, relatou que os sensores do sismómetro permitiram aos cientistas isolar um “evento sísmico candidato consistente com a trajetória do ponto de impacto projetado pela bola de fogo”.
Na prática, a atividade sísmica captada por vários sensores correlacionou o caminho do meteoro com o das ondas terrestres. A matriz permitiu também que os cientistas identificassem a localização exata do impacto.
A investigação ainda não foi revisada por especialistas, mas os dados preliminares sugerem que o epicentro do impacto estava situado “nas proximidades da geleira de Humboldt, no manto de gelo da Gronelândia”.
Ainda há muita coisa por desvendar sobre a bola de fogo de Qaanaaq, mas graças à infraestrutura do SIIOS temos agora uma pista consistente sobre o misterioso meteorito e, segundo os cientistas, uma novidade mundial no âmbito da pesquisa astronómica.
“Este candidato a evento de impacto sísmico registado por um sistema é o primeiro análogo sísmico de alta fidelidade para eventos de impacto do mundo gelado”, explicaram os autores.
Estas descobertas têm então implicações que se estendem além da Terra. Como este evento foi o primeiro registo de eventos de impacto em mundos cobertos de gelo, estas descobertas podem “informar a Ciência do impacto de objetos em todo o Sistema Solar“.