A Terra pode ter tido um campo magnético diferente, que terá sido gerado por oceanos de magma na sua superfície, em vez da rotação do núcleo.
Isto significa que mais exoplanetas do que se pensava podem ter uma “armadura” magnética, que os protege da radiação do Espaço. A boa notícia é que há a possibilidade de estes planetas terem vida.
De acordo com o estudo, publicado a 24 de setembro na revista Nature, muito antes de a Terra ter uma “pele”, quando o seu interior fluía no exterior e seu núcleo ainda estava a endurecer, a sua armadura magnética já se estava a formar.
A análise da eletroquímica de magma em movimento descobriu que oceanos de rochas líquidas suficientemente grandes poderia gerar os seus próprios campos magnéticos, o que ajuda a entender não apenas a história do planeta, como também as possibilidades de existência de vida noutros planetas.
Dois investigadores da Universidade de Berkeley, nos EUA, voltaram aos primeiros princípios para simular as condições superficiais de super-Terras jovens.
“Este é o primeiro cálculo detalhado para condições de temperatura e pressão mais altas e descobre que as condutividades elétricas parecem ser um pouco mais altas, por isso os movimentos de fluidos necessários para fazer tudo funcionar são um pouco menos extremos”, disse o cientista planetário Burkhard Militzer.
O nosso próprio Mundo tem um poderoso dínamo, agitando-se profundamente sob a forma de um núcleo rotativo de ferro líquido e níquel, que gira com minerais mais leves e partículas carregadas.
“Um campo magnético é útil para proteger uma atmosfera planetária de ser levada pelos ventos estelares”, referiu o co-autor François Soubiran. Não só precisamos que a atmosfera mantenha a temperatura da superfície constante, como também que as reações químicas protejam a biosfera de doses letais de radiação.
Os campos magnéticos também fazem um bom trabalho ao formar um guarda-chuva que desvia as partículas de alta energia, para que não bombardeiem a crosta. Portanto, é uma aposta segura que, se não existir campo magnético, não existirá vida.
Saber que planetas fora do nosso Sistema Solar conseguem gerar campos magnéticos poderá ajudar a distinguir os planetas “estéreis” dos planetas onde se pode procurar vida. Além disso, categorizar as diferentes formas pelas quais os planetas criam campos magnéticos abre o caminho para o estudo da geologia de um planeta sem a necessidade de aterrar na sua superfície.
“Em Júpiter, surge da convecção de hidrogénio metálico líquido”, exemplificou Militzer. “Em Urano e Neptuno, supõe-se que seja gerado nas camadas de gelo. Adicionámos agora rochas fundidas a esta lista diversificada de materiais geradores de campos magnéticos”.
Não se sabe como um dínamo de superfície pode interagir com os processos centrais, especialmente porque se sabe muito pouco sobre o interior do planeta. “A interação entre o campo magnético do núcleo líquido e o oceano de magma não é fácil de prever, mas pode resultar num dipolo significativo”, escreveram os autores.
Idealmente, para formar uma bolha protetora, um campo magnético deve ter uma forma de dipolo organizada. E isto pode ser bom para quem queira acrescentar “super-Terras” à sua lista de possíveis locais que alberguem extraterrestres.
A maioria destas planetas gigantes tendem a ser puxados para perto das suas estrelas, onde as erupções solares e o calor constante deixam a desejar em qualquer ambiente. Contudo, um campo magnético poderia protegê-los da atividade solar.
Com o número de exoplanetas encontrados a subir e um grande número de mundos semelhantes à Terra entre eles, procurar sinais de campos magnéticos à distância poderá ajudar a priorizar a procura de vida entre as estrelas.