
A 4 de março de 2001 Castelo de Paiva entrou em choque dada a dimensão da tragédia que ocorreu naquele domingo de chuva. As águas do rio corriam bravas e barrentas como se a natureza fosse a premonição de um luto anunciado. 59 vidas foram levadas ao início dessa noite, quase todas elas vindas de uma excursão às amendoeiras em flor, quase todas elas vindas de um dia feliz de convívio e partilha.
Quando amanheceu, os primeiros raios do dia mostraram um cenário desolador. Muitos dos corpos nunca apareceram, muitas famílias não conseguiram fazer o processo do luto e,passado vinte anos ainda dói. A todos, a quem perdeu, a quem conhecia, a quem simplesmente é paivense. 4 de março será para sempre uma data triste, de lembrança.
Anabela tinha entrado em trabalho de parto nesse dia e recorda o misto de emoções que viveu nesse dia e nos que se seguiram.
“Os dias seguintes foram muito conturbados. A ânsia de recuperar as vítimas conduzia diariamente os familiares ao lugar e as notícias eram costantes. Estava todo o concelho mobilizado para as buscas e receção das vítimas, inclusive o centro de saúde e respetivos profissionais.Já em casa com a minha filha. Estava consciente da tragédia, mas o que mais e preocupava era a minha filha e o seu bem estar, como era de esperar. Mãe de primeira viagem, queria protegê-la, dar-lhe todo o amor e tudo o que fosse necessário nos seus primeiros dias de vida. E foi na primeira semana que começou a minha preocupação maior. Tinha que levar a minha dilja ao centro de saúde até ao 7° dia de vida para fazer o teste de despiste das doenças genéticas (teste do pezinho) e só o consegui no limite. Deve imaginar porquê… Um misto de emoções , amor angústia, preocupação, compaixão…Por um lado a morte, a destruição e a dor que assolava o concelho, por outro, o amor maior da nossa vida, o amor pela minha filha e a vontade de a proteger de tudo e de todos.”, refere.
Era um concelho parado à beira rio desesperado por encontrar os seus filhos que encontraram a morte naquelas águas. Alguns vieram a aparecer dias mais tarde na Galiza o que fazia prever que muitos nunca mais seriam encontrados.
Castelo de Paiva sofreu e sofre com aquela que foi a maior tragédia rodoviária do país.