Centenas de corpos de pinguins-de-adélia (Pygoscelis adeliae) mumificados foram encontrados na Antártida. Os cientistas acreditam que os animais tenham morrido há cerca de 200 a 750 anos devido a alterações drásticas no clima.
Os pinguins, mumificados pelo ambiente seco e frio da Antártida, morreram provavelmente devido ao clima extremo que se fez sentir na região, onde foram registados momentos extremamente chuvosos e com muita neve nos últimos mil anos.
“É bastante provável que o aquecimento global tenha causado uma maior precipitação, levando a esta tragédia”, disse Liguang Sun, autor principal do estudo e professor de Ciências da Terra na Universidade de Ciências e Tecnologias da China.
A equipa de cientistas encontrou os restos de “múmias preservadas e desidratadas” na Long Peninsula da Antártica em 2016. Muitos dos corpos encontrados eram de crias, aponta o novo estudo publicado no dia 28 de agosto no Journal of Geophysical Research.
De acordo com Liguang Sun, é bastante comum encontrar restos mortais de pinguins-de-adélia – incluindo as suas penas e ossos – na Antártida. Contudo, acrescentou “é muito raro encontrar tantos pinguins mumificados, especialmente crias”.
A datação por radiocarbono revelou que os animais morreram de forma gradual ao longo das décadas, tendo as mortes ocorrido em dois períodos distintos: entre 200 a 750 anos atrás. Depois de estudar os sedimentos depositados junto das múmias, que incluíam fezes e materiais de nidificação, os investigadores concluíram que foram os “eventos climáticos extremos”, que duraram décadas, que causaram a morte dos animais.
Importância da descoberta
Esta descoberta é especialmente importante porque ajuda os cientistas a prever como é que os pinguins vão reagir a alterações climáticas bruscas no futuro. De acordo com a equipa de investigação, que incluiu cientistas chineses e australianos, os eventos futuros não serão muito risonhos.
“Acredita-se que a atual tendência de aquecimento global vai continuar ou piorar“, disse Sun. À medida que a mudança climática provocada pelo Homem aquece o planeta, a Antártida terá mais chuva e neve, o que provavelmente “vai aumentar as possibilidades de se voltar a registar tantas mortes” entre as populações de pinguins, sustentou.
O pinguim-de-adélia é nativo da Antártida, onde atualmente existem 250 colónias, uma das quais foi descoberta este ano e tem cerca de 1,5 milhão de aves. A União Internacional para a Conservação da Natureza não considera a espécie em vias de extinção mas, para os cientistas, eventos climáticos extremos podem colocá-la em perigo.
As crias de pinguim são mais vulneráveis às chuvas forte e à neve, uma vez que ainda não desenvolveram completamente as suas penas impermeáveis que os protegem do clima extremo – o que pode explicar o número tão elevado de crias encontradas.
“Ao contrário dos adultos, que têm penas para isolá-los da água fria, os pequenos pinguins não têm plumagem à prova de água”, explicaram os autores. Devido às falta de plumagem, as crias sofrem com o frio, podendo mesmo “morrer de hipotermia”.
Além disso, a queda de neve pode dificultar o processo de reprodução dos pinguins, que encontram dificuldades em encontrar pequenas pedras para os seus ninhos, bem como zonas sem neve para os depositar.
Para evitar estas mortes em massa, “a humanidade precisa de fazer mais e desacelerar a atual tendência do aquecimento global”, reiterou Sun.