Num remoto laboratório situado na Alemanha, a 80 quilómetros de Munique e longe da poluição generalizada das grandes cidades, uma equipa de investigadores está a estudar uma peculiaridade bizarra do nosso cérebro: a presença de partículas magnéticas.
Os cientistas sabem desde 1990 que o cérebro humano contém estas partículas, só ainda não conseguiram perceber porquê. Alguns especialistas propõem que podem ter algum propósito biológico, enquanto que outros sugerem que pode estar relacionado com o crescente fenómeno da poluição ambiental.
Agora, os cientistas alemães encontraram algumas evidências que podem explicar a sua existência. Num novo estudo, publicado no final de julho na Scientific Reports, que inclui dados sobre sete cérebros de pessoas já falecidas, os investigadores explicam que encontraram algumas partes que eram mais magnéticas do que outras, ou seja, que tinham mais partículas magnéticas.
Os sete cérebros em análise tinham uma distribuição muito semelhante destas partículas, o que pode sugerir que, no fundo, não são resultado de uma consequência ambiental mas sim para servir uma função biológica.
Os cérebros, que pertenciam a pessoas que morreram com idades entre os 54 e os 87 anos em 1990, foram colocados num dispositivo que media as forças magnéticas. Depois de uma leitura de controlo, os cientistas colocaram as amostras ao lado de ímanes muito fortes e, de seguida, fizeram outra leitura. Se a amostra do cérebro contivesse partículas magnéticas, essas partículas apareceriam como uma leitura no magnetómetro.
Mas calma, não precisa de ficar preocupado com o que estas partículas podem fazer no seu dia-a-dia. Tal como explica Stuart Gilder, autor principal do estudo e professor de geofísica na Universidade de Munique Ludwig-Maximilians, o aparelho utilizado é bastante mais forte do que qualquer coisa que alguma vez poderá atravessar-se no seu caminho.
O íman utilizado na pesquisa é um tesla mais forte (unidade usada para medir a densidade de fluxo magnético), ou 20 mil vezes mais forte do que o campo magnético da Terra, o que equivale a cerca de 50 microteslas.
Os cientistas descobriram que a maior parte do cérebro pode ser magnetizada, ou seja, as áreas que o compõem podem ter partículas magnéticas. Mas, nos sete cérebros estudados, o tronco cerebral e o cerebelo tinham um maior magnetismo do que o córtex cerebral superior. Tanto o tronco encefálico como o cerebelo estão nas porções mais baixas do cérebro e ambos são evolutivamente mais antigos do que o córtex cerebral.
Em declarações ao Live Science, Gilder sugere que estas partículas podem estar mais concentradas nas partes baixas do cérebro para ajudar os sinais elétricos a moverem-se da coluna vertebral para cima e para dentro do cérebro. No entanto, o autor do estudo diz que ainda está tudo em aberto no que toca a interpretar estes resultados.
Além disso, como estas partículas não foram especificamente encontradas em grandes concentrações perto do bulbo olfativo – o que poderia acontecer se fossem absorvidas por causa do ambiente – o investigador não considera que sejam um resultado da poluição (deitando por terra a ideia de que poderiam ser inaladas pelo nariz e depois passassem pelo bulbo olfativo do cérebro).
Os investigadores levantaram a hipótese de que o tipo de partícula magnética encontrada nessas regiões do cérebro é um composto chamado magnetita (Fe3O4), tendo como base estudos anteriores que encontraram essa partícula em cérebros humanos. Porém, é possível que outros tipos de partículas magnéticas existam no cérebro além dessa, observou Gilder.
Muitos animais também têm partículas magnéticas no cérebro. Aliás, alguma pesquisa anterior sugere que certos animais, como as enguias e as tartarugas, usam-nas para navegar melhor. As únicas criaturas, segundo Gilder, que usam essas partículas de magnetita para ajudar a orientarem-se no espaço são as bactérias magnetotáticas.
Os humanos, por outro lado, provavelmente não fazem isso, conclui o investigador.