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A União Americana de Geofísica publicou um vídeo da plataforma de gelo Ross, na Antártica, a “cantar”. Os tons sísmicos podem ser usados para monitorizar as alterações nas plataformas de gelo.
Exploradores polares registaram sons extraordinários ao examinar como o ar quente interfere no degelo de glaciares na plataforma Ross, do tamanho do estado americano do Texas, que é a maior plataforma de gelo do mundo, situada no território da Antártica reivindicado pela Nova Zelândia.
Esta gigante plataforma de gelo sustenta os lençóis de gelo adjacentes no continente da Antártida, impedindo o fluxo de gelo da terra para a água, atuando como um tampão.
Quando as plataformas de gelo colapsam, o gelo pode fluir mais rapidamente da terra para o mar, elevando o nível do mar. As plataformas de gelo em toda a Antártida têm diminuído e, em alguns casos, estão se fragmentando devido ao aumento das temperaturas do oceano e do ar.
Observações anteriores mostraram ainda que as plataformas de gelo da Antártida podem entrar em colapso repentinamente e sem sinais de alerta óbvios.
Para melhor entender as propriedades físicas da região, os exploradores enterraram 34 sensores sísmicos extremamente sensíveis debaixo da superfície gelada.
Os sensores instalados permitiram monitorizar as vibrações da plataforma e estudar os movimentos da estrutura por um período de dois anos – de finais de 2014 a inícios de 2017 -, comunicou o site da American Geophysical Union.
Segundo os exploradores, os ruídos surgem por causa das vibrações provocadas por ventos fortes que sopram sobre as dunas de gelo.
As plataformas de gelo estão cobertas por mantos de neve, muitas vezes com vários metros de profundidade – a camada de neve age como um manto protetor para o gelo subjacente, isolando o gelo e protegendo-o do aquecimento.
Na investigação, publicada a 16 de outubro, na revista American Geophysical Union – Advancing Earth and Space Science, os cientistas afirmam que durante a análise dos dados sísmicos, a neve protetora estava constantemente a vibrar.
Ao explorar os dados, os investigadores descobriram que os ventos que passavam pelas dunas de neve faziam com que a camada de gelo “roncasse”. Foram notadas, também, mudanças no tom do barulho sísmico com a movimentação das camadas de neve.
O gelo vibrou em frequências diferentes sempre que o vento deslocava dunas de neve ou quando as temperaturas da superfície aumentavam ou diminuíam, fazendo com que a velocidade das ondas sísmicas, movidas pela neve, se altera-se.
Julien Chaput, geofísico e matemático da Universidade do Colorado e autor principal do estudo, comparou o fenómeno com a “execução constante de uma flauta” na plataforma de gelo.
Assim, tal como os músicos que podem mudar a intensidade da nota, dependendo do buraco da flauta ou velocidade de sopro, as condições atmosféricas nas plataformas de gelo também podem mudar frequência da vibração pela transformação da topografia das dunas, destacou Chaput.
A plataforma da Antártica “canta” numa frequência que é impercetível para o ouvido humano. Para captar o “canto”, Julien Chaput acelerou a gravação 1,2 mil vezes.
Apesar de o som ser em frequências demasiado baixas para ser audível para os ouvidos humanos, as novas descobertas sugerem que os cientistas podem, quase em tempo real, usar as estações sísmicas para monitorizar as condições das plataformas de gelo.
Mudanças nos sons sísmico da plataforma de gelo podem indicar se há lagoas ou fendas no gelo que podem indiciar que a plataforma de gelo está suscetível a um desmoronamento. “Basicamente, o que temos nas nossas mãos é uma ferramenta para monitorizar o ambiente e o seu impacto nas plataformas de gelo” disse Chaput.