Na hora de dormir, a maioria das pessoas trava uma dura batalha contra pensamentos e memórias embaraçosas que nos despertam do sono. Um grupo de cientistas pensa ter descoberto a resposta a este problema.
Durante o dia, o cérebro faz o possível para evitar pensamentos indesejados, mas, na hora de dormir, não há como evitar lutar com pensamentos e memórias que nos despertam e deixam envergonhados.
Ainda assim, o cérebro oferece-nos uma forma de controlar esse tipo de pensamentos nada produtivos. Sem esta ferramenta, as memórias indesejadas podem ser debilitantes para a pessoa, já que esse tipo de pensamento é um sintoma clássico de problemas mentais como a esquizofrenia, stress pós-traumático e depressão.
Até agora, os cientistas não entendiam como funcionava esse processo. Os investigadores sabiam que o córtex pré-frontal tem um papel importante no controlo das nossas ações e pensamentos, mas o mecanismo que ativa esse sistema de defesa continuava um mistério.
Um grupo de investigadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicou, em novembro, um artigo científico na Nature Communications que pode explicar o funcionamento deste mecanismo de defesa.
Os cientistas afirmam que o neurotransmissor ácido gama-aminobutírico, GABA, é o responsável por noites mal-dormidas devido a lembranças negativas.
O GABA é uma substância química presente no cérebro que permite que as mensagens passem pelas células nervosas, e que também age como principal inibidor dessas mesmas mensagens.
Quando uma célula nervosa liberta o GABA, a célula suprime a atividade de outras células conectadas. No novo estudo, os cientistas mostraram que a quantidade de GABA no hipocampo do cérebro pode prever com que eficiência o cérebro de uma pessoa pode bloquear o processo de recuperação de memórias, que, por sua vez, bloqueia a aparição dessas memórias.
“O que é empolgante sobre isto é que estamos a ficar cada vez mais específicos”, explica o co-autor do trabalho, Michael Anderson.
No estudo, os participantes fizeram um exercício de palavras em que tinham que associar pares de palavras sem relação entre si, como “mofo” e “norte”. Esses pares de palavras representavam as memórias que os participantes tinham que recuperar ou reprimir para passar à próxima fase da experiência, na qual tinham que reagir dependendo da cor que aparecesse no ecrã.
Quando aparecesse a cor verde com uma palavra, o participante em questão tinha que se recordar e dizer em voz alta qual a palavra que era associada a essa no início do teste. Mas quando a palavra aparecia com a cor vermelha, os participantes tinham que evitar pensar no par dessa.
Enquanto isso, os investigadores fizeram uma ressonância magnética aos cérebros dos participantes para medir a atividade do cérebro. Além disso fizeram também uma espectroscopia por ressonância magnética para analisar a química do cérebro.
Os resultados revelaram que as pessoas que tinham níveis mais baixos de GABA no hipocampo tinham maior dificuldade em reprimir memórias.
“O ambiente e influências genéticas que aumentam a hiperatividade do hipocampo podem causar uma série de problemas com pensamentos invasivos como sintoma principal”, explica a co-autora Taylor Schmitz. Caso um tratamento consiga melhorar a atividade do GABA no hipocampo, a severidade do problema poderá diminuir.
Fonte: ZAP