Investigadores descobriram recentemente que a última refeição da múmia conhecida como Ötzi, ou “Homem do Gelo”, foi altamente calórica, digna de um banquete recheado de carne de veado, cabrito e cereais.
Frank Maixner e Albert Zink, do Instituto Eurac, em Itáliam analisaram o ADN, as proteínas, gorduras e outros nutrientes presentes no estômago de Ötzi, a múmia mais velha da Europa, para determinar a composição da sua última refeição.
Os resultados da minuciosa investigação, publicados esta quinta-feira na Current Biology, revelaram que o estômago do “Homem do Gelo” continha restos de veado e de carne de um cabrito selvagem chamado íbex, além de trigo e outros cereais. Este banquete representa “uma excelente fonte de energia para um homem que era extremamente magro”, lê-se na Nature.
Segundo o Diário de Notícias, Ötzi, a múmia que tem cerca de 5300 anos, terá ingerido a sua derradeira refeição entre meia hora a duas horas antes de ser atingido pela flecha que o matou. O “Homem do Gelo” terá sido atingido no ombro, mas não terá sentido qualquer perigo nas horas que antecederam o ataque, dizem os cientistas.
Contudo, se nos centrarmos no banquete, a maior surpresa não está na quantidade mas sim no nível altamente calórico dos alimentos. A refeição continha 50% de gordura, quando apenas precisamos de 10%. A maior parte das calorias vieram o íbex que os cientistas acreditam ter sido caçado por Ötzi.
“Ötzi parecia saber que as gorduras representam uma excelente fonte de energia. A região alpina, com altitudes que podem chegar aos 3.210 metros, onde o Homem do Gelo viveu, é um grande desafio para a fisiologia humana. Exige um suplemento ótimo de nutrientes para evitar uma queda súbita de energia”, refere Frank Maixner.
Além disso (e como se as surpresas não bastassem), os cientistas descobriram ainda que Ötzi preparava os seus próprios alimentos. Análises detalhadas mostraram que a carne estava em muito boas condições, com indícios de ter sido seca ao ar ou aquecida – numa tentativa de a preservar, muito provavelmente. Só posteriormente terá sido assada ou cozida.
“Ötzi pode ter sentido dores de estômago devido aos parasitas que detetámos no seu intestino, e recorreu aos fetos como remédio. Também é concebível, no entanto, que ele tenha usado as folhas para embrulhar a comida e que tenham ficado vestígios da planta nos alimentos”, explica Zink, referindo-se aos vestígios de fetos e a uma espécie de trigo, chamado einkorn, encontrados.
Duvidas não restam: Ötzi não se alimentava nada mal. “A última refeição do Homem do Gelo foi uma mistura equilibrada de hidratos de carbono, proteínas e lípidos – perfeitamente adequada às necessidades de quem vivia numa região alta dos Alpes”, conclui o investigador.