Os testes em animais não vão ser mais precisos relativamente a um grupo de neurotoxinas mortais, graças a uma nova investigação da Universidade de Queensland, na Austrália.
Por mais benéfica que a Ciência seja para a Humanidade, são as dezenas de milhões de ratinhos de laboratório e porquinhos-da-índia que pagam o preço final. Porém, quando se trata de avaliar um grupo de neurotoxinas mortais, isso está prestes a terminar.
Segundo o IFLScience, cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, criaram uma nova técnica que pode substituir os métodos convencionais neste campo.
Muitos dos medicamentos mais importantes são produzidos a partir de venenos, sendo o mais famoso o captopril, que evitou milhões de ataques cardíacos depois de o seu antecessor ter sido descoberto nas víboras do Brasil.
No entanto, com o animal venenoso a produzir um complexo ‘cocktail’ de moléculas, fazer os testes para identificar quais são aqueles que têm potenciais benefícios revela-se um enorme desafio.
“O método antigo, embora extremamente eficiente, é limitado por ser lento e por exigir a eutanásia dos animais para obter o tecido necessário”, explica em comunicado Bryan Fry, professor associado da universidade australiana.
“O nosso novo método utiliza sondas ópticas mergulhadas numa solução que contém venenos e medimos a ligação a essas sondas — o fator crítico — analisando as mudanças na luz refletida. Isto vai reduzir o número de animais usados em testes, mas também tem implicações biomédicas significativas”, afirma.
“O veneno da víbora do templo [Tropidolaemus wagleri] tem uma reatividade cruzada incomum para o recetor alfa-5 humano, que é o principal alvo de doenças como a colite”, exemplifica.
Este novo método também se baseia no desenvolvimento de peptídeos sintéticos que correspondem aos nossos receptores nervosos (que fazem com que os músculos se contraiam).
“As neurotoxinas, encontradas no veneno de muitos tipos de cobras, causam paralisia ao ligarem-se a receptores nervosos nos nossos músculos, impedindo o processo normal de ligação química que ocorre naturalmente quando nos queremos mover”.
“Como os venenos se ligam aos peptídeos sintéticos com mais vigor do que aos nervos humanos, também estamos a investigar um novo tratamento para a mordedura de cobra, usando esses peptídeos como um ‘chamariz’”.
“Muitas espécies de cobras mortais não possuem um anti-veneno eficaz, portanto esse tipo de aplicação pode ajudar a atender essa necessidade crítica”, acrescenta Fry.
O investigador, cujo estudo foi publicado, em outubro, na revista Toxins, espera que este processo seja um dia expandido para lá das neurotoxinas.