Após três anos de prejuízos que foram agravados pela pandemia de covid-19, o Santuário de Fátima está a preparar o despedimento de uma centena dos seus 350 trabalhadores. A instituição enfrenta uma “crise sem precedentes”.
A crise económica provocada pela pandemia de covid-19 não poupa ninguém, inclusive a Igreja Católica que tem sofrido prejuízos avultados com as restrições relacionadas com a estratégia de contenção do vírus.
No Santuário de Fátima, já está a ser preparado um plano de despedimentos, conforme anunciou a TVI, referindo uma “crise sem precedentes”.
A porta-voz do Santuário, Carmo Rodeia, confirma este cenário em declarações à TSF, notando que “o cancelamento de viagens de grupos de peregrinação e da actividade turística tiveram um impacto bastante grande na gestão económica e financeira” daquele que é um dos mais procurados locais de culto católico do mundo.
“O Santuário iniciou um processo de reestruturação interna que visa particularmente a redução de custos fixos“, explica Carmo Rodeia, frisando que “os trabalhadores foram convidados a reflectir a sua situação, negociando saídas voluntárias”.
Este plano “prevê uma redução de trabalhadores que não chegará à meia centena”, acrescenta a mesma responsável.
O objectivo é “preservar a sustentabilidade” do Santuário, “sem beliscar aquela que é a sua principal missão, que é o acolhimento dos peregrinos”, aponta ainda Carmo Rodeia.
“Desde o início da pandemia que procurámos, a todo o custo, manter todos os postos de trabalho e tudo continuaremos a fazer para que seja afectado o menor número de trabalhadores”, acrescenta a porta-voz.
A TVI avança que os despedimentos devem abranger cerca de uma centena dos 350 trabalhadores do Santuário.
Numa primeira fase, a instituição vai privilegiar as saídas amigáveis, estando aberta a receber propostas dos colaboradores até 15 de Setembro. Só depois disso, avançará com o plano de despedimentos.
Três anos de prejuízos
As dificuldades económicas no Santuário começaram a fazer-se notar depois da celebração do centenário, fruto de algumas medidas tomadas como as obras de renovação de espaços e de equipamentos, bem como a contratação de profissionais especializados para tarefas que eram, habitualmente, feitas por freiras ou padres a preços reduzidos.
A pandemia veio agravar as contas, com as cerimónias do 13 de Maio deste ano a realizarem-se sem a presença de peregrinos, o que implicou uma grande quebra nas receitas.
Santuário não revela contas há 14 anos
Nos últimos 14 anos, o Santuário de Fátima não tem publicado os seus resultados financeiros, uma prática que se verificou até 2006.
A interrupção nunca foi justificada, mas o reitor do Santuário chegou a garantir, em entrevista à Lusa, que nada tinha a ver com qualquer diferendo com as Finanças.
Na mesma altura, o reitor admitiu, porém, que havia “uma interpretação diversa do que estabelece a concordata em questões de matéria tributária“, conforme cita a TVI.
A concordata define a relação entre o Estado e a Igreja Católica, determinando, nomeadamente, que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) fica isenta do pagamento de qualquer imposto.
O reitor do Santuário assegurou, na mesma entrevista à Lusa, que as contas são auditadas por uma entidade externa e apresentadas ao Conselho Nacional do Santuário de Fátima que pertence à CEP.
Neste ano, a pandemia terá causado um rombo de 50 milhões de euros à Igreja Católica portuguesa devido a menos receitas recolhidas, nomeadamente com a ausência de peregrinos em Fátima, a redução das esmolas e dos casamentos.
Numa carta enviada aos diocesanos, o Cardeal D. Manuel Clemente, que está em fim de linha como presidente da CEP, assume o impacto da crise de covid-19.
“A pandemia afectou-nos muito como sociedade e como Igreja. Nas suas várias incidências, da saúde à economia, do trabalho à escolaridade e ao convívio, exigiu-nos e continua a exigir solidariedade e solicitude reforçadas”, escreve D. Manuel Clemente, conforme cita a Rádio Renascença.
“A crise sanitária impediu-nos de realizar muitas das actividades previstas”, aponta também o Cardeal Patriarca de Lisboa, salientando a importância de reforçar “as instâncias de corresponsabilidade comunitária e missionária”.
Fonte: ZAP