A mente se apaga, o corpo se afunda,
Do pensamento não sai
Tudo quanto ainda não esqueço,
Tudo quanto em mim apenas adormeço.
Aqui parado, sentado e de olhos fechados
Viajo num tempo passado, real,
Repleto de ilusões que em mim ainda vives.
Deixo que me toques, que me beijes, que me abraces,
Deixo que sejas minha e eu sou apenas teu.
Desesperadamente entrelaçados
Não permitimos que ninguém nos separe,
E num silêncio angustiante, eternizamos o olhar
No amor que não queremos abandonar.
A bruma da noite chegou,
Com ela a escuridão irrompe pelo quarto,
O medo se acende num canto de parede branca.
Ouvem-se então, gritos de desespero,
A lua assustada escondesse atrás da negra nuvem.
Ferozmente os olhos fechados abrem-se num ápice.
Ajoelhada a inocente incompreensão
Refugia-se de cabeça prostrada sob os lençóis,
Ainda quentes, recebem o corpo já frio e imóvel.
Flutua pelo ar, carregado de sofrimento, o desespero
Que as mãos alucinantes não conseguem recuar a morte.
E hoje foi assim, e amanhã assim será,
Aqui parado, sentado e de olhos fechados
Repete-se a viagem de um momento, endoidecedor,
Que acende e revive o pensamento aterrador
Que faz sentir um medo que não mata,
Que simplesmente maltrata,
E por fim, eu choro.
Dissipo o sofrimento no basto pranto da realidade,
E soluçando refúgio-me no mesmo canto da parede branca
Onde agora reside a saudade eterna,
Onde agora se sente a permanente presença do teu ser,
Onde agora a fotografia devolve a mentira,
Que a realidade não permiti que o longo lado direito da nossa,
Ainda, nossa cama fique por ti desfeita.
Simplesmente conquistado pela verdade
Entrelaço meus braços no travesseiro,
Beijo a fotografia e digo-te, boa noite, eu também gosto de ti.
Paulo Semide – Poeta
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