Um grupo de especialistas conseguiu desvendar o principal segredo da famosa técnica de impasto de um dos mais famosos artistas plásticos de todos os tempos, Rembrandt (1606-1669).
Segundo os investigadores, o génio holandês dava aos seus trabalhos um efeito tridimensional graças a uma receita misteriosa que utilizava nas suas pinturas. Depois de séculos de investigação, os cientistas descobriram que o artista utilizava uma combinação de materiais disponíveis nos mercados da Holanda no século XVII, como pigmentos de chumbo branco e compostos orgânico, como é o caso do óleo de linhaça.
Contudo, e apesar de todos os anos de investigação, havia um ingrediente em falta que os investigadores só agora conseguiram descobrir depois de analisar com npvos métodos três obras do artista: “O Retrato de Marten Soolmans” (Rijksmuseum), “Betsabé com a carta de David”(Louvre) e “Susanna e as velhas”‘ (Mauritshuis).
De acordo com o estudo, publicado no início de janeiro na revista Angewandte Chemie International Edition, foram os raios-X das máquinas de rastreio de última geração do Laboratório Europeu de Radiação Síncrotron (ESRF, localizado em Grenoble, França), que permitiram à equipa de investigadores, composta por cientistas holandeses e franceses, identificar os elementos químicos presentes nas camadas de tinta.
O ingrediente “desaparecido” acabou por ser identificado como o mineral plumbonacrite, identificado em algumas pinturas do século XX e também num pigmento de chumbo vermelho degradado num trabalho de Van Gogh (1853-1890).
“Não esperávamos encontrar a [substância], uma vez que é muito incomum nas pinturas dos velhos mestres”, explica o autor principal do estudo, Víctor González, do Rijksmuseum e da Universidade Tecnológica de Delft, na Holanda.
Mistura intencional
Além de descobrir o ingrediente secreto, a análise das obras mostrou ainda que Rembrandt modificou intencionalmente os seus materiais de pintura. “Com base em textos históricos, acreditamos que Rembrandt tenha acrescentado óxido de chumbo ao óleo para obter esse efeito, convertendo a mistura numa tinta pastosa”, assinala Cotte Marinho, especialista internacional em conservação de arte.
E é deste “truque” que nasce a técnica de nome “impasto”, originária do verbo italiano impastare, que significar tornar em pasta. Com esta receita especial, o artista aumentava as propriedades da textura da tinta que refletem a luz e, consequentemente, melhoram as possibilidades de perceção da obra.
Apesar do avanço conseguido, os cientistas notam que o número de obras estudadas nesta amostra não é grande o suficiente para avaliar se os impastos de chumbo branco contêm, de forma sistemática, vestígios de plumbonacrita.
“Estamos a trabalhar com a hipótese de que Rembrandt poder ter utilizado outras receitas, e essa é a razão pela qual vamos estudar amostras de outras pinturas do artista holandês, bem como de outros mestres holandeses do século XVII, incluindo Vermeer Hals e outros pintores do círculo de Rembrandt” , considerou Annelies van Loon, especialista do Museu Nacional de Amesterdão.