O atual cenário internacional, pós pandemia e com conflitos armados ativos entre nações,
chama a atenção para as dependências entre países e regiões em termos de abastecimento
energético e de alternativas para combater essa escassez que pode ser provocada por uma
crise pontual ou de infraestrutura ou, mesmo, por uma guerra, como a que acompanhamos
entre a Rússia e a Ucrânia.
Neste sentido, as questões que envolvem estratégias geopolíticas em torno da existência ou
construção de gasodutos e oleodutos dominam o cotidiano dos especialistas que afirmam ser
importante encontrar formas de se contornar estes obstáculos que possam prejudicar
populações inteiras a nível mundial.
O engenheiro Paulo Roberto Gomes Fernandes, presidente da empresa brasileira Liderroll
Indústria e Comércio LTDA, uma das líderes neste segmento na América do Sul,
desenvolvedora de soluções de dutos especiais em projetos nos EUA, Jordânia, Chile, Peru,
Rússia, Turquemenistão e vencedora do maior prémio na área de dutos, concedido pela ASME
- EUA, como a melhor empresa de soluções especiais do mundo em 2011 para a construção de
dutos em ambientes confinados, disse à nossa reportagem acreditar que é preciso serem
reeditadas e repensadas as maneiras e filosofias conservadoras que eram utilizadas no
passado, as quais estão hoje servindo de tábua de salvação para muitos países e, com isso,
ultrapassar esta dependência.
Na sua visão, “não há mais tempo para se tentar reinventar a roda ou se buscarem soluções de
consolidação para dez anos, como é o caso do hidrogénio, muito pelo contrário, a necessidade
agora é de se trocar o pneu com o carro andando”.
“Infelizmente, tivemos que estar passando por uma operação especial coordenada de
intervenção militar de um país sobre um outro país para que as autoridades que compõem
alguns governos pudessem enxergar o que muitos ainda não se deram conta que é a
necessidade de ser ter um planeamento para uma boa malha de dutos, tanto interna nos seus
países, como em parceria com os seus países vizinhos ou grandes polos produtores”, defendeu
Paulo Fernandes, que sublinhou ainda que “esta rede de gasodutos, oleodutos ou aquedutos,
ou o que seja necessário transportar a granel, deve ter o objetivo de subsistência, pois é isso
que define a geopolítica mandataria para a segurança e manutenção da vida de qualquer povo
e raça”.
Este engenheiro, ex-professor federal e antigo funcionário da Petrobras é reconhecido pela
experiência no ramo e por ser um dos principais especialistas no mundo em construção de
gasodutos e oleodutos no interior de túneis de longas distâncias em ambientes confinados.
Possui mais de oito patentes exclusivas registadas e concedidas em mais de 53 países, inclusive
na comunidade europeia e na Índia.
Este responsável acredita que é “importante ter outras portas de entradas deste graneis,
insumos e produtos a base de hidrocarbonetos utilizando como portas alternativas os píeres
existentes ou a serem construídos, portos e terminais marítimos, sobretudo no continente
europeu” e em outras partes do mundo que possam passar por este mesmo cenário.
“Jamais deve-se ficar unicamente focado no modismo do politicamente correto, pois, isto
ainda vai demorar a acontecer e a prova disto é que algumas outras alternativas aos
hidrocarbonetos já avançaram bastante, porém, estão recuando em alta velocidade também e
com certa dose de vexame”, disse Paulo Fernandes.
“Não vejo que estaremos livres dos hidrocarbonetos tão facilmente como querem alguns
pseudos iluminados de gel no cabelo e fatos ou ternos alinhados, mas que se quer já pisaram o
chão de uma fábrica. É um politicamente correto que está fazendo o mundo oscilar sem
objetividade e até mesmo está atrasando a obtenção de uma alternativa correta e sustentável.
Há muita gente em diversos países tentando reinventar a pólvora numa corrida individual,
cada um para um lado e da sua maneira. Isto não traz resultado consistente”, comentou.
A questão tem ganhado espaço no cenário internacional a cada dia com mais força, uma vez
que as temperaturas já começaram a descer na Europa e o frio acaba sendo uma arma
silenciosa a custo zero. Como contra golpear ou minimamente se manter vivos sem os
hidrocarbonetos? (gás e petróleo), explica Paulo Fernandes.
“As eólicas não conseguem atender, os carros da tesla, do que servem? Os satélites do Elon
Musk aquecem de que forma? O Windows esquenta as panelas de comida? Data para esperar
a vinda do tão almejado Hidrogénio Verde? A que custo? É uma questão simples de ser
constatar que não há como se descartar os hidrocarbonetos (gás e petróleo) da noite para o
dia como querem os influencers de plantão. Todos sabem que é só manter os dutos vindos da
Rússia fechados ou sabotados em pleno inverno que, com as temperaturas negativas, o pior
poderá acontecer”, destacou Paulo Fernandes, que foi mais além:
“Na minha opinião, está claro que a matriz energética que está em funcionamento deve ser
mantida pelo tempo que for necessário, porém, deve ser criado um grupo centralizado que
pode ser o BRICS com a contribuição de mais alguns outros países que detenham tecnologias
em energia, grupo que, em paralelo, criará, definirá e escolherá, esgotando todas as teses do
que será adotado mundialmente como a filosofia e metodologia para se ter uma energia
menos poluente, para, aos poucos, irmos nos desconectando da base de hidrocarbonetos.
Assim, teríamos uma ação centralizada, bem diferente da corrida maluca que vemos hoje. A
cada três meses vemos um novo midas pelo mundo gritando eureca. Está feio e está
desestimulando os pensadores sérios”, frisou Paulo Roberto Gomes Fernandes.
“Desta forma, eu vejo como inevitável e urgentíssimo o imediato recomeço de se traçar novos
projetos e a construção de gasodutos e oleodutos estratégicos de conexões entre países e
continentes. O que é de domínio público, simples e rápido de se construir. Temos tudo a mão.
Isto, inclusive, irá acalmar os ânimos e remover algumas vantagens logísticas e bélicas de uma
nação sobre a outra”, finalizou este responsável.
Ígor Lopes