Em participação no Fórum La Toja, em Galiza (Espanha), o chefe da diplomacia portuguesa e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, defendeu a necessidade da Europa ser mais autónoma, dona do seu destino e aberta ao mundo, e destacou os perigos e ameaças de confrontação e divisão por parte de outros países.
Ele afirmou: “Se a Europa quer contribuir, e o mundo necessita que a Europa contribua, para o equilíbrio geopolítico, tem de ser mais autónoma e mais dona do seu destino, mas a condição necessária para essa autonomia é a sua capacidade de abertura ao mundo e aos outros blocos regionais”. Além disso, ele considerou que é necessário que a União Europeia seja “um ator global” que valorize o multilateralismo e a comunidade e a ordem internacional baseada em regras.
Ele acrescentou ainda que a Europa está muito preocupada duas ameaças, uma de confrontação com a China e outra de divisão entre os países ocidentais. “Uma ameaça de confrontação com a China dados os últimos gestos e atitudes da República Popular da China em Hong Kong, em relação a Taiwan ou no Mar do Sul da China”, explicou.
Também há o perigo da Europa em ignorar os parceiros da América Latina: “Eu vejo, designadamente no Conselho de Negócios Estrangeiros da União Europeia que a relação entre a Europa e a América Latina não constitui um traço que una os ministros dos Negócios Estrangeiros e é, muitas vezes, tido como um interesse sub-regional de países como a Espanha, Portugal ou Itália”, completou.
E isso, na sua opinião, é “um erro” porque a América Latina e a Europa são provavelmente os blocos mais alinhados entre si dando, a título de exemplo, a maneira como votam quase sempre em conjunto nas Nações Unidas.
A Europa distingue-se de outras entidades ou potências pela sua capacidade de falar com diferentes blocos regionais, desde a América do Norte, o Reino Unido, América Latina, África e as várias Ásias, sublinhou o ministro.
Antes, na sessão inaugural da terceira edição do fórum, o Rei de Espanha, Felipe VI, referiu que a sociedade internacional está a testemunhar inúmeras mudanças na ordem geopolítica global, caracterizadas desde o início deste século pelo surgimento de novos atores, equilíbrios de poder e cenários que geram, cada vez mais, incertezas e maiores dificuldades de governação.
É, por isso, que o isolamento não é uma boa opção, considerou, acrescentado que a pandemia de covid-19 com todas as suas implicações e consequências fez com que muitas dessas transformações ocorressem com mais intensidade.
O Fórum La Toja, que decorre hoje e sexta-feira, reúne políticos, pensadores e empresários e tem como tema nesta edição de 2021 “Uma Oportunidade para Relançar o Vínculo Atlântico”.