Cientistas encontraram uma espécie desconhecida do vírus ébola, o vírus Bombali, em pelo menos duas espécies de morcegos na Serra Leoa, na África. De todas as espécies do ébola já encontradas, esta é a primeira a ser detetada num animal antes mesmo de ser identificada em seres humanos.
De acordo com o estudo publicado nesta segunda-feira na Nature Microbiology, os investigadores acreditam que o vírus é capaz de infetar humanos contudo, só ainda não sabem com certeza se o vírus pode causar doenças.
A espécie recém-descoberta junta-se ao rol das cinco espécies já conhecidas do vírus ébola, entre as quais: o vírus Zaire, o vírus Bundibugyo, o vírus Sudan, o vírus Taï Forest e o vírus Reston. Destes cinco, todos, à exceção do vírus Reston, são conhecidos por causar doenças graves e frequentemente fatais nos humanos.
O surto mais devastador de ébola da história recente foi causado pelo vírus Zaire, entre 2013 e 2016, na Serra Leoa e na Libéria. Durante este período, mais de 28.000 pessoas foram infetadas e 11.325 acabaram por morrer.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o atual surto de ébola, que começou no início do mês de agosto na província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo, também é causado pelo vírus Zaire.
O vírus foi descoberto em 1976, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de doenças, mas a fonte do vírus continua a intrigar os cientistas mesmo depois de quatro décadas de investigação.
O reservatório – organismo que os vírus utilizam para viver e se reproduzirem naturalmente – ainda é desconhecido. Pesquisa anteriores sugeriam que os morcegos são a principal espécie hospedeira utilizada como reservatório mas, até ao momento, os cientistas não conseguiram isolar e recuperar um genoma completo do vírus ébola a partir de morcegos.
Para identificar todas as espécies do vírus nos hospedeiros antes que ébola se espalhe para os seres humanos, cientistas do U.S. Agency for International Development’s (USAID) PREDICT Ebola Host Project recolheram amostras biológicas de 535 animais na Serra Leoa – 244 morcegos, 46 roedores, 240 cães e 5 gatos – e testaram a presença do vírus.
“Se quisermos evitar surtos de ébola, é importante saber que espécies são hospedeiras e podem espalhar o vírus”, explicou Tracey Goldstein, coautor do estudo e diretor associado do One Health Institute da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, em comunicado.
“Depois, podemos ajudar a direcionar os comportamentos destes animais hospedeiros, para que possamos proteger as pessoas, que é o objetivo principal do nosso trabalho”.
Na análise, apenas quatro morcegos foram identificados com o vírus. Todos os outros animais tiveram testes negativos. Os morcegos foram capturados dentro de três casas distanciadas entre si a cerca de 20 quilómetros.
Três dos morcegos infetados eram morcegos-de-cauda-livre (Chaerephon pumilus) e o outro era um morcego-de-cauda-livre-angolano (Mops condylurus). Ambas as espécies são amplamente distribuídas pelo território africano mantendo-se, muitas vezes, juntas.
Quando a equipa analisou o genoma dos morcegos detetados com o vírus, descobriu que o vírus era bastante diferente dos até agora encontrados, representando assim uma nova espécie. Os investigadores apelidaram a espécie com o nome do local onde foi identificado pela primeira vez: o distrito de Bombali, na Serra Leoa.
Os cientistas sublinharam ainda que o objetivo do seu trabalho não é incitar o pânico nem medo de morcegos. A equipa lembra, aliás, que esta é uma espécie importante para os ecossistemas. Acrescentando ainda que estudo anteriores mostraram que matar morcegos não reduz o risco de transmissão.