Uma geração de anticorpos amplamente neutralizantes fornece agora uma nova abordagem para tratar a infeção pelo VIH. Uma equipa de cientistas investigou o impacto da combinação desses anticorpos em pacientes infetados pelo vírus e os resultados foram animadores.
O VIH não pode ser completamente curado. Mas, em vez disso, pode ser tratado com medicação de terapia anti-retroviral (ART). Todavia, nesta solução improvisada reside um problema: se um paciente não se sujeitar a essa rotina rígida de medicação, o vírus pode ressurgir.
Agora, novos ensaios clínicos realizados em humanos mostraram que medicação baseada em dois anticorpos encontrados naturalmente em algumas pessoas podem “esconder” o VIH durante meses a fio, adianta o New Atlas esta segunda-feira.
Estes anticorpos foram identificados, pela primeira vez, quando os cientistas estudaram a forma como certas pessoas parecem defender-se naturalmente (e com sucesso) contra o VIH. Nessas pessoas, os investigadores a Universidade Rockefeller identificaram dois anticorpos – conhecidos como o 3BNC117 e o 10-1074 – que estimulam o sistema imunológico a combater a infeção, atacando certas proteínas na superfície do vírus.
De forma a imitar o efeito destes anticorpos, foram desenvolvidos medicamentos no passado, chamados anticorpos neutralizantes (bNAbs), mas a sua eficácia ficou aquém do esperado. No entanto, os cientistas explicam que este fármaco foi desenvolvido tendo por base apenas um desses anticorpos.
Desta forma, para remediar a situação, os cientistas da Universidade de Rockefeller decidiram desenvolver medicação de bNAb que combinam 3BNC117 e 10-1074, que funciona de diferentes maneiras no corpo humano.
Depois de um primeiro teste que se mostrou muito promissor em animais, os investigadores decidiram avançar para os testes clínicos em humanos. O primeiro envolveu nove participantes que tinham versões do vírus muito vulneráveis a ambos os anticorpos.
Os pacientes interromperam os seus tratamentos e receberam três transfusões de medicação bNAbs com três semanas de intervalo. Os cientistas descobriram que o novo tratamento “adormece” o VIH durante 21 semanas, em média, e nos casos mais eficazes, durante cerca de seis meses.
A equipa adianta ainda que o vírus não desenvolveu resistência ao tratamento em nenhum dos pacientes, e o pior efeito colateral verificado foi uma leve fadiga.
Já no segundo ensaio clínico, a equipa realizou um teste semelhante em sete pacientes com VIH virémico, o que significa que o vírus estava ainda a circular ativamente pela corrente sanguínea. O tratamento com bNAb também funcionou, mantendo o vírus sob controlo durante cerca de três meses.
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Ainda que este tratamento pareça promissor, os cientistas sublinham que estes anticorpos específicos não serão eficazes em todas as cepas do VIH. Desta forma, esta técnica pode ser adaptada de forma a poderem ser usados diferentes bNAbs para direcionar diferentes versões do vírus.
Se este tratamento resultar, os cientistas afirmam que poderá ajudar a manter o vírus sob controlo, libertando os pacientes da obrigação de terem de tomar um medicamento todos os dias.
Os dois estudos foram publicados recentemente na Nature e na Nature Medicine.