O presidente do PSD de Castelo de Paiva e vereador, José Rocha, concedeu entrevista exclusiva para o Jornal Paivense e fez saber sua opinião sobre temas de interesse público, como os principais problemas enfrentados pela população de Castelo de Paiva, políticas públicas da atual gestão e os rumos da economia e desenvolvimento do concelho.
O jovem político e empresário falou também sobre a desertificação do concelho, que segundo dados apontados perdeu 2000 pessoas em população entre 2009 e 2019.
Nesta entrevista, José Rocha criticou algumas posturas do atual Executivo Municipal, apresentou propostas para tentar solucionar questões apontadas pela população e se posicionou como uma alternativa para as eleições autárquicas de 2021. Confira abaixo:
Que medidas poderiam ser tomadas para atrair mais investimentos do Governo para Castelo de Paiva?
Temos de exigir efectivamente que o governo olhe para os paivenses e para Castelo de Paiva de uma maneira séria e que nos ajudem. Os investimentos essenciais são as acessibilidades e a ligação da variante nacional 222 a A32, o que nos dá condições de captar empresas e investimentos para Castelo de Paiva. Sente-se uma desertificação, um abandono das pessoas, em especial as mais jovens, que acabam por precisar ir embora do concelho para conseguir mais empregos. É preciso exigir do governo que se cumpram as promessas de efectuar estas obras.
O Executivo Municipal alega que não há recursos para concluir a variante a EN222. Qual seria a solução para resolver esse problema?
Há duas décadas o problema tem se arrastado, os sucessivos governos tem prometido mas alegam não ter dinheiro para efectuar a obra. Quem governa Castelo de Paiva tem a obrigação de exigir e de se impor. Não podemos apenas olhar para a camisola do clube que está a governar Portugal, mas temos de olhar para os paivenses e suas necessidades. Precisamos bater o pé, exigir que o governo cumpra as promessas, pois é uma obra que tem de ser suportada pelo governo.
Qual a sua avaliação do atual Executivo Municipal?
Acho que o principal erro que podemos apontar nesta atual gestão municipal é o facto de que há 4 anos promoveu um marcha lenta para exigir essas obras fundamentais, quando 15 dias antes o presidente da CM de Castelo de Paiva tinha elogiado Castro Almeida pelo trabalho que estava a fazer, na altura o Secretário de Estado que estava com os fundos europeus para a ligação da Variante da EN222 a A32. Agora que o governo é outro, não vemos avanços mas também não vemos esse empenho e essa reivindicação por parte da autarquia. Acredito que o Executivo Municipal actualmente se omite de exigir do governo a Variante a EN222 e o IC35.
O IC35, demanda antiga da população, mais uma vez foi adiado, desta vez anunciado para 2030. O que tens a dizer sobre isso?
Tem sido uma constante de adiamentos e suspensões da obra. Queremos ver sair da teoria à prática e ver arrancar a obra. Palavras levam-nos o vento e temos ouvido muitas palavras, mas obras e factos não tem acontecido.
O que uma eventual candidatura do PSD poderia apresentar à sociedade paivense que seja diferente do que tem feito o atual Executivo?
O que temos visto nos últimos 10 anos é que não tem havido um crescimento, não há desenvolvimento. Castelo de Paiva está estagnada e parou no tempo. Cinfães e Arouca, concelhos vizinhos, tem experimentado um desenvolvimento muito acentuado enquanto cada vez mais ficamos parados. Nossos vizinhos estão a andar para frente e nós estamos sem sair do sítio.
Quem governa a autarquia tem que ir atrás dos empresários e captar empresas para o concelho, incentivá-los a instalarem-se no concelho de Castelo de Paiva. Necessitamos urgentemente de uma zona industrial que está a ser prometida desde 2009 e não sai do papel. Castelo de Paiva hoje não tem terrenos para a instalação de novas indústrias e isso é essencial para a fixação de nossos jovens, gerar emprego e fixar a mão de obra, que é o ponto de viragem.
Temos de pensar no turismo e em aproveitar o nosso potencial. Temos rios, temos vales e serras. Passam pelo concelho quatro rios, o Douro, o Paiva, o Sardoura e o Arda, mas muito pouco ou nada tem sido feito. Arouca tem feito um trabalho a aproveitar todo esse potencial turístico com seus passadiços enquanto enquanto nós estamos a espera da abertura dos nossos passadiços e percursos terrestres há dois anos e neste momento ainda está no papel, e não foram anunciados na imprensa e nem estão prontos, há hoje apenas 600m de percursos.
Temos de aproveitar o nosso património mineiro. Tivemos aqui e vivemos da extração mineira, que por muitas décadas foi uma unidade importantíssima que empregava muita gente e não soubemos aproveitar esse património que ficou, inclusive turístico. O Museu do Mineiro e os trilhos dos mineiros são iniciativas que nunca saíram do papel, aproveitar as zonas onde passavam as antigas vagonetas do carvão e o fojo que se encontra no abandono. Temos de pensar em outras iniciativas turísticas para o concelho como um todo, tentar ligar desde o rio Paiva ao Douro, ao Sardoura e o Arda. Só quando conseguirmos unir o concelho todo e apresentar uma oferta turística real a quem nos visita conseguiremos fazer com que quem passe em Castelo de Paiva também fique cá e consiga promover um ambiente mais competitivo, com mais condições e com mais emprego. Vou sempre bater à mesma tecla, temos que criar condições, mais empregos para fixar as pessoas e haver um maior número de construções.
Isto também aponta para a parte ambiental. Inadmissível termos um concelho que não proporciona qualidade de vida à sua população. Somos dos últimos a nível nacional em cobertura de saneamento, não temos saneamento. Esta tem de ser uma aposta efectiva, assertiva. Não se pode andar com festas e festinhas, que são importantes, mas há formas de fazê-las com menos custos, com gestão responsável dos recursos, direcionar os recursos para o que realmente é prioritário. Como podemos ter 3 ETARs em Castelo de Paiva, Pedoridos, Sardoura e Fornos, e só Fornos está a trabalhar e em sua maioria com as ligações que vem de Cinfães, pois pouco utilizamos. Temos de apostar efetivamente nessas infraestruturas e temos que conseguir aumentar a cobertura de saneamento em Castelo de Paiva.
Em entrevista ao Jornal Paivense, o presidente Gonçalo Rocha informou que o atual orçamento da Câmara está comprometido com empréstimos contraídos de gestões anteriores. Segundo o mesmo, o Município tem por volta dos 9 milhões de euros de receita. Ainda assim, você acredita que é possível resolver a questão do saneamento com um orçamento tão apertado e reduzido como este?
É sempre possível quando há vontade e quando existe uma gestão efetiva do município. Nós sabemos também que ha muitos fundos comunitários aos quais Castelo de Paiva se poderia candidatar, mas infelizmente o Executivo tem deixado passar ao lado muito desses concursos. Temos que nos apoiar muito o que é a Europa e os fundos europeus. É claro que o orçamento da CM de Castelo de Paiva sabemos que não é dos maiores, mas é preciso fazer essas obras de uma forma planeada, em fases. Agora o não fazer nada é que é preocupante, o continuar na cauda dos concelhos de Portugal isso é que nao pode acontecer. Estamos a 30min do porto temos condições para atrair o turismo, mas agora é preciso dar as condições, dar qualidade de vida pois é isso que é importante. Fazer uma boa gestão do dinheiro público é fundamental para se conseguir realizar não apenas o saneamento, mas todas as obras que o concelho precisa. Nós vemos concelhos com orçamentos menores que o de Castelo de Paiva que conseguem fazer, então por que é que nós não conseguimos?
Algumas pessoas têm demonstrado interesse em se fixar cá no concelho de Castelo de Paiva, mas o valor das rendas tem aumentado cada vez mais, até mesmo a dobrar em um período de cinco anos. Hoje não há habitações suficientes para todos e o concelho enfrenta um défice habitacional, com longas listas de espera. Como você percebe esta questão e o quais as suas propostas para resolvê-la?
Acho que este executivo desde 2009 que anda a prometer, a dizer que vai fazer a alteração do PDM (Plano Director Municipal) e não o faz, atrapalha o desenvolvimento e a criação de novas construções. O PDM é um elemento fundamental para que haja zonas de construção em Castelo de Paiva. Nós temos que criar mais zonas de construção para que as pessoas possam fazer as suas próprias habitações, o que efetivamente é uma carência muito grande cá. Existe falta de habitação no concelho porque também não temos esse mecanismo a funcionar. Ainda agora foi prolongado mais o prazo de concurso, ou seja, andamos sempre a adiar um instrumento muito importante que já deveria estar em prática. Independentemente das cores políticas, o que se faz muita vez e nisto os atuais gestores do concelho são exímios, olhando para a cor politica de quem quer que seja criam muitos obstáculos. Temos que muitas vezes facilitar quem pretende investir em Castelo de Paiva, porque quem vai investir vai criar empregos cá, vai pagar as suas taxas e impostos no concelho, e isso é fundamental para a saúde financeira do orçamento municipal. Nós não podemos aceitar que desde 2010 até 2019 tenhamos perdido o número de população que perdemos. Isso é inadmissível e tem de ser trabalhado. Cerca de 2000 pessoas deixaram Castelo de Paiva em 9 anos.
No âmbito da iniciativa Norte 2020 e dos recursos do Si2E destinados a Castelo de Paiva, para geração de empregos no concelho, houve grande alarde por conta da reportagem da RTP no programa ‘Sexta às 9’, que apontou um suposto favorecimento ao antigo presidente Antero Gaspar. Acredita que as acusações sejam procedentes? É possível que o atual Executivo Municipal tenha tido alguma influência para favorecer o Sr. Antero Gaspar, como alguns alegam?
Eu na altura fiz essa questão lá na Câmara porque eu também queria perceber. Isso foi um assunto muito relatado até pela imprensa nacional sobre algum compadrio que poderia existir quanto a fundos. Questionei diretamente o presidente da câmara se a autarquia tinha tido alguma intervenção nos pareceres positivos ou negativos desse projeto, se tinha sido emitido qualquer documento que pudesse reforçar a candidatura de alguém. O que me foi garantido pelo Executivo é que isto não aconteceu e que a responsabilidade da aprovação de todos os projetos foi da CCDR-N, que é a Coordenação do Norte. Portanto aí nos pensamos que terão sido seguidos todos os regulamentos enquanto o resto acho que cada um tem de tirar as suas próprias conclusões.
Na sua opinião, existe hoje no PS algum nome forte para suceder o atual Executivo Municipal? Quem seria um oponente de peso para o PSD nas próximas eleições autárquicas?
Quanto a isto, o PS é que tem de decidir quem é o seu candidato. O Gonçalo Rocha, atual presidente da Câmara, não pode candidatar-se novamente, até por causa da lei da limitação. Até agora, nenhum candidato do PS foi anunciado. Iremos aguardar e depois analisar a cena. É claro que isto vai partir da estratégia do PS.
Sabemos que no partido há alguns nomes em potencial que tem se mostrado, mas qualquer um que seja o candidato do PS, claramente irá ser respeitado por nós. Iremos fazer o nosso trabalho na oposição para efetivamente em 2021 conseguirmos ganhar a Câmara Municipal. Iremos lutar pela população em 2021 para dar qualidade de vida aos Paivenses, fazer melhor pelo turismo, melhorar no geral. O que se vai passar no PS a mim nao diz respeito. Eles fazem o trabalho deles e nós fazemos o nosso, independentemente do candidato que possa vir a surgir por lá estamos preparados.
As europeias mostraram certa vantagem do PS frente ao PSD em número de votos, mas também existe o agravante que a maioria dos Paivenses não foram votar. Você acha que o resultado das europeias é um retrato político da população do concelho e em quem escolherão votar nas autárquicas?
As eleições europeias nao servem de exemplo para isso. Como é obvio muita gente não percebe ou não dá importância às eleições europeias. O concelho de Castelo de Paiva ter cerca de 72% de abstinência não é bom.
Acho que as pessoas poderiam ter mais atenção a isto porque efetivamente as europeias, através dos representantes eleitos por nós para o parlamento europeu, é o que nos possibilita ir buscar os fundos europeus, e por isso é muito importante. É claro que com a abstenção o PS teve uma maior vantagem em relação ao PSD nas europeias, mas acho que isso não é relevante porque as pessoas sabem que são eleições diferentes. Em 2015 nas eleições legislativas o PSD também ganhou e com uma abstenção muito menor, 38%, e ganhou com uma larga margem em 2015. Temos um taxa de abstenção de 38% para as legislativas, uma taxa de abstenção de 25% para as eleições locais, porque acabam por dizer mais às pessoas, e uma taxa de abstenção de 72% para as europeias, que é muito, mas esses resultados acho que não são reveladores da real ideia dos paivenses para as eleições autárquicas em 2021.
De acordo com a sua perspetiva, acredita que os Paivenses se sentem de alguma forma desconectados do plano europeu de desenvolvimento ?
Não só os paivenses como todos os portugueses, e isso é visto porque a taxa de abstenção rondou os 70% em todo o país. Acho que isto também é culpa dos partidos, e é uma culpa também dos eurodeputados portugueses. Eles são eleitos por 5 anos e vão para Bruxelas e só voltam depois de 5 anos para fazer campanha, ou seja, podia haver uma maior ligação, podia haver um trabalho mais no terreno, uma proximidade com as populações. Devia haver mais sessões de esclarecimento, deviam aparecer mais, devim explicar, deviam ter contacto direto com as pessoas. Falta esse contacto direto com as pessoas, olhar olhos nos olhos é fundamental e as pessoas tem que sentir isso, tem que sentir o que está a ser feito, não sabendo o que está a ser feito passado 5 anos é muito difícil para depois convencer as pessoas a terem a real noção do que foi feito ou não, do que foi importante, do que efetivamente colaboraram e temos que partir por aí. As pessoas e os políticos tem de descer, tem de chegar junto da população, tem que andar no meio da população e tem que explicar quais são as suas ideias, quais são as suas pretensões e em que é que colaboraram para mudar. Enquanto isso não acontecer é muito complicado.
A população tem algum motivo para dar um voto de confiança ao PSD nas próximas eleições autárquicas? Que elementos, na sua opinião, fariam com que as pessoas votassem em um candidato do PSD em 2021, já que o partido obviamente já esteve à frente do concelho em durante outras gestões.
Sim. Eu acho que as pessoas efetivamente tem que ver o querem para o seu futuro. Já temos visto qual tem sido a formação do PS nestes últimos 10,11 anos. Efetivamente Castelo de Paiva não se destaca, não evolui, não tem desenvolvimento, não tem emprego, não fixa pessoas e acho que isso é a grande questão. As pessoas têm de começar a compreender e a ver se querem que os seus filhos, os seus netos tenham condições de ficar em Castelo de Paiva ou se querem continuar a vê-los a sair do no nosso concelho, e para isso nós somos voto útil, de estar no PSD, o voto útil para tentar reverter esse cenário.
O caminho que está a ser feito pelo PS efetivamente, não está a dar resultados, não está a dar frutos. Porque isto é muito bonito, as festas e festinhas resultam durante dia, mas no dia a seguir toda a gente tem que ir trabalhar. Toda a gente tem que procurar a sua sustentabilidade e infelizmente não é em Castelo de Paiva que estão a encontrar essa sustentabilidade, tem que ir para fora, tem que ir para outros concelhos e isso é o que nós queremos evitar. E efetivamente é como eu dizia à pouco, é aposta global no turismo, aposta no emprego e na qualidade de vida e no ambiente do concelho. Criar boas condições para que eles possam cá ficar e isso é o que as pessoas têm que por na balança. isso será uma diferenciação que poderemos escolher, de dar oportunidade a um candidato que nunca lá esteve de fazer melhor, de conseguir esses objetivos, ou continuarmos como estamos, na rota das festas e das festinhas e das obras inacabadas, que tem sido o que tem acontecido em Castelo de Paiva.
Qual a vossa opinião, do PSD, sobre o que é o papel da imprensa no concelho de Castelo de Paiva?
Eu acho efetivamente que a Câmara Municipal deve apoiar a imprensa local, essencialmente a local. Esse apoio não pode é criar limitações para que essa imprensa seja facciosa. Deve dar autonomia para que a imprensa faça o seu trabalho, tenha um trabalho livre, tenha a liberdade de falar, exprimir, de mostrar o sentimento das pessoas e ouvir tanto politicamente dum lado como do outro. Acho que isso é fundamental. Devia-se incentivar o aparecimento de mais imprensa em Castelo de Paiva porque toda a gente tem direito à informação e muitas vezes essa informação fica limitada também pelos pouco recursos que nós temos em Castelo de Paiva. A Câmara de Cinfães tem feito um trabalho nesse sentido de apoio a imprensa local lá e nós também devíamos fazer esse esforço cá, para que pudéssemos dar informação a todos os Paivenses, não falar só da política mas até mesmo veículos com foco e acompanhamento desportivo, acompanhamento cultural, acompanhamento às associações, aos problemas do dia a dia, um pouco como o Jornal Paivense tem feito. Nós temos excelentes bandas marciais, temos três delas, e somos um dos concelhos com bandas com mais qualidade. A nível desportivo, temos vários clubes com várias modalidades, e promover isto que nossa terra tem faz falta a Castelo de Paiva, assim como também promover o que é feito por nós, o que é nosso. Quando nós não somos os primeiros a promover o que é nosso, então muito dificilmente alguém ira fazê-lo.
Rumores apontam que o PSD está a viver uma certa divisão, uma rixa interna entre lideranças do partido numa disputa para nomear quem será o candidato às autárquicas em 2021. Como você responde a essa acusação?
Não estamos divididos. Respondo a essa acusação a dizer que minha preocupação é cuidar do que acontece dentro do meu partido, mas penso que o PS também devia ter a mesma preocupação ao que se passa dentro do partido deles, pois não é o PSD que tem três possíveis candidatos à Câmara Municipal. Acho que o PSD já demonstrou em 2017 quem será o nosso candidato. Logo a seguir às eleições autárquicas fizemos eleições internas com lista única, uma forte votação na Lista de Estado que eu continuo a encabeçar. Não há disputa para definir quem será o candidato, pois isto já está claro e foi definido em votação interna. Isto é que é importante, ver que os militantes se encontram ao lado da estrutura, o quem sido demonstrado para a população.
É normal que até mesmo o PS queira criar esses focos de instabilidade, espalhar rumores de que estamos divididos, mas acho que o PS deve se preocupar primeiro em arrumar a casa deles, em fazerem o trabalho deles, que nós vamos fazer o nosso com a mesma determinação, sempre com o nível elevado de seriedade, respeito mútuo, honestidade e transparência para com a população, que é o que lhes é exigido também.