Além da distância geográfica de 350 quilómetros a separar Lisboa de Castelo de Paiva, existe um outro abismo que as distancia entre si: a escolaridade. Quando se analisam os números da escolaridade e qualificação de recursos humanos, a distância entre a capital do país e a região do Tâmega e Sousa, que abrange este concelho, torna-se muito maior, aproximando-o de países subdesenvolvidos como Irão e Botswana.
Os números mostram que a escolaridade média dos trabalhadores de Lisboa está nos 11,2 anos. É uma performance acima da média nacional (10,2) e, em especial, acima dos números apresentados no Tâmega e Sousa e no Vale do Ave, que aparecem com médias de 8,2 e 8,8 anos, respetivamente.
“Tâmega e Sousa e Ave parecem pertencer a outro país. A escolaridade média destas sub-regiões é inferior à de países como a Colômbia, Irão ou Botswana”, destaca o estudo “Assimetrias e Convergência Regional: Implicações para a Descentralização e Desconcentração do Estado em Portugal”, que a Associação Comercial do Porto apresentou hoje.
O trabalho, da responsabilidade da Universidade do Minho, com coordenação de Fernando Alexandre, mostra que as desigualdades regionais são muitas e a capital parece ficar mesmo longe do país real no que respeita à escolaridade e às qualificações dos recursos humanos. Castelo de Paiva ocupa uma posição muito abaixo da média nacional, e ainda mais distante da capital, Lisboa no que tange a estas questões.
Apenas 3% dos trabalhadores do Vale do Ave eram diplomados as áreas das Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Se a percentagem de trabalhadores diplomados em Portugal é de 19%, na Área Metropolitana de Lisboa chega aos 26% e mais do que triplica os números do Tâmega e Sousa (8,8%). A região é considerada por muitos como um reduto rural, e não costuma atrair investimentos em tecnologia: “o que pode por em causa a competitividade futura desta região industrial e exportadora”, alerta o estudo.
Além disso, registra-se um êxodo muito grande de pessoas que saem da região do Tâmega e Sousa para outras regiões ou países europeus. Enquanto a população de Lisboa cresceu 7%, no Tâmega caiu 17%. “São números alarmantes que deveriam chamar a atenção da Câmara Municipal e dos secretários de educação de Castelo de Paiva”.
A ACP considera obrigatório “corrigir as graves desigualdades que persistem entre regiões e que põem em causa a igualdade de oportunidades dos cidadãos”. Para a ACP, os municípios deveriam ter maior controle sobre os gastos com educação e mais autonomia.
Nuno Botelho, presidente da ACP, pede “maior envolvimento das entidades locais, públicas e privadas, incluindo as associações empresariais, de forma a dar aos centros de formação uma maior flexibilidade na oferta, com maior potencial para melhorar a competitividade das regiões e as condições de empregabilidade”, conclui.