O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Francisco George, disse esta quinta-feira que é contra as greves de médicos e enfermeiros, considerando que este “não é um direito” para os profissionais de saúde em causa.
Em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, o antigo diretor geral da Saúde disse não concordar com este tipo de paralisações, defendendo que as greves nesta área prejudicam os doentes, e não as entidades patronais.
“Não concordo. Não concordo com paralisações nem de médicos nem de enfermeiros”, começou por dizer. “Não fazem sentido, Não podem existir. Sou a favor de movimentos grevistas, quando são justos, e sobretudo quando são contra patrões”.
“Acontece que o doente não é o patrão do grevista. E esta é que é a grande diferença. O grevista lesa o patrão, mas quando o grevista é médico ou enfermeiro não está a lesar o patrão, está a lesar o doente. Nenhum doente, a meu ver, devia ser molestado, devia ser desassossegado quando vai a uma consulta e vê que há greve. E depois são mais seis meses. Isto é inaceitável, intolerável no plano de ética que eu observo”, sustentou.
Para Francisco George, “a greve não é um direito para médicos e enfermeiros”, porque “quem é prejudicado não é o patronato, é o doente”, vincou, confessando-se mesmo “chocado” com as paralisações dos últimos meses.
Na mesma entrevista, e depois de recusar apontar os ministros com que trabalhou que mais se destacaram, o presidente da CVP deixou elogios à atual ministra da Saúde, Marta Temido, adiantando ser “muito amigo” da governante.
“A resposta é muito positiva à pasta que tem, com as dificuldades que tem. Há poucas mulheres jovens como ela, com capacidade intelectual, de conhecimento, para gerir uma pasta como a da Saúde. Durante três anos em que trabalhámos juntos no Ministério da Saúde, eu como diretor-geral e ela presidente da Administração que geria nove mil milhões de euros por ano, que geriu de forma absolutamente vertical e notável”, disse.
“Defendo mais do que o fim” da ADSE
Questionado sobre o eventual fim do sistema de saúde da função pública, Francisco George afirma que defende “mais do que o fim” da ADSE.
“A ADSE devia ter sido dissolvida em 1979, quando os outros subsistemas foram. A ADSE é criada por Salazar em 1963, numa altura em que os funcionários públicos ganhavam muito pouco, mas Salazar não queria que fossem mendigos. E então arranjou ali uma forma de terem acesso a médicos privados. Surge assim o seguro para os funcionários públicos poderem ir a médicos privados e não terem que ir ao hospital público”, afirmou.
Contudo, explica, o panorama e o acesso à saúde em Portugal mudaram, havendo agora mais meios e hospitais ao serviço da função pública.
“Aliás, na altura nem havia Serviço Nacional de Saúde nem sequer hospitais… Este sistema existiu numa altura em que os funcionários públicos não tinham outros meios e os hospitais não existiam. Hoje temos um serviço que cobre o litoral, o interior, o norte, o sul, as regiões autónomas e os funcionários públicos não são o mesmo”, defendeu.
“Repare: 600 milhões de euros para pagar a serviços privados prestados pelos médicos que vêm do público e fazem umas horas no privado. Com a agravante de os hospitais privados terem ido buscar os melhores…”, observou ainda o presidente da CVP.
Depois de 44 anos na Administração Pública, 12 dos quais como diretor-geral da Saúde, Francisco George terminou a sua carreira em outubro de 2017, quando completou 70 anos de idade. Nesse mesmo mês, o Conselho Supremo da CVP elegeu-o por unanimidade como novo presidente nacional da instituição.
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Fonte: ZAP