Está instalada uma verdadeira guerra entre médicos no Hospital Doutor Nélio Mendonça, no Funchal, na Madeira, depois das acusações feitas pelo coordenador do serviço de Medicina Nuclear, Rafael Macedo, que imputa a colegas responsabilidades pela morte de doentes por negligência médica.
Rafael Macedo esteve nesta semana no Parlamento regional da Madeira, a prestar declarações na Comissão de inquérito ao serviço de Medicina Nuclear que foi criada por requerimento do PSD, no seguimento de uma reportagem da TVI.
Nessa peça, Rafael Macedo acusa colegas médicos do hospital de desviarem para uma clínica privada pacientes a necessitarem de fazer exames e tratamentos que poderiam ser feitos no estabelecimento público, a preços bem mais baixos.
No Parlamento, Rafael Macedo acrescentou que pode ter havido casos de morte de doentes por negligência médica, falando em incompetência e na gestão deficiente dos recursos. Falou em “forte negligência” e em “tratamentos não adequados”, apontando o dedo aos directores dos serviços de Ortopedia, Urologia e Hemato-Oncologia.
Rafael Macedo revelou também que reportou várias irregularidades à Ordem dos Médicos e ao Ministério Público e referiu que tem sido alvo de assédio moral e de ameaças desde que fez as denúncias da alegada relação entre o Serviço de Saúde da Região Autónoma da Madeira (SESARAM) e a Clínica de Radioncologia da Madeira que integra o grupo Joaquim Chaves Saúde.
O SESARAM divulgou que no período entre 2009 e 2018, o Governo regional da Madeira “pagou 22 milhões de euros à Clínica de Radioncologia para a prestação de serviços”, sendo que desse valor, “apenas 10% foi relacionado com a área da medicina nuclear”, enquanto “o restante foi para tratamentos e exames de radioterapia, um serviço de que o hospital público não dispõe”, como refere o Público.
Mas Rafael Macedo contesta estas contas e considera que o serviço não tem sido utilizado com eficiência, com custos elevados para o erário público.
Médico suspenso e alvo de inquérito
Entretanto, o SESARAM já veio defender os médicos acusados por Rafael Macedo, anunciando também a instauração de um processo disciplinar ao coordenador do serviço de Medicina Nuclear.
O médico está também suspenso de funções enquanto decorrer este processo, como anunciou a presidente do Conselho de Administração do SESARAM, Tomásia Alves, em conferência de imprensa, justificando que “a sua presença pode perturbar as investigações necessárias para a descoberta material da verdade”.
“Não vamos continuar a permitir que um colaborador que mereceu a confiança da instituição continue a denegrir a imagem nos vários meios disponíveis, nas redes sociais, na comunicação social, sem responsabilidade e sem qualquer sustentação nas informações que veicula”, aponta a responsável segundo cita o Diário de Notícias da Madeira (DN Madeira).
Tomásia Alves nota que houve vários processos de averiguação relativamente às acusações de Rafael Macedo que foram arquivados, acusando o médico de ter causado “alarmismo” e de ter prejudicado “a imagem e bom nome do SESARAM”, quebrando “a confiança em si depositada” e ofendendo “a honra e bom nome de colegas”.
Esta foi a segunda conferência de imprensa em dois dias do SESARAM na sequência das declarações de Rafael Macedo e a terceira posição pública da entidade, como frisa o DN Madeira.
O SESARAM já tinha anunciado a suspensão dos exames urgentes a doentes oncológicos, bem como a dispensa de Rafael Macedo da realização de exames na unidade de Medicina Nuclear.
“Os exames serão retomados quando forem devolvidas a serenidade dos profissionais para garantir qualidade dos registos, a segurança dos doentes e a integridade dos profissionais e dos utentes”, apontou Tomásia Alves na conferência de quinta-feira.
“As acusações infundadas, de grande irresponsabilidade, são uma ofensa à instituição e aos seus profissionais, com repercussões na credibilidade e confiança e serão alvo das medidas adequadas”, disse ainda a responsável.
Entretanto, o Jornal da Madeira revela que Rafael Macedo estará também a ser acusado de faltas injustificadas e nota que o médico já recorreu ao advogado Garcia Pereira para o defender.
SV, ZAP //
Fonte: ZAP