Provavelmente nunca ouviu falar, mas há uma doença rara que nos faz amar toda a gente. Chama-se síndrome de Williams e afeta uma em cada dez mil pessoas em todo o mundo.
Uma criança que não tem medo de estranhos, que abraça constantemente as pessoas e que ama todos de igual forma parece alguém muito feliz. Mas não é bem assim: pessoas que sofrem de síndrome de Williams, uma condição genética rara, enfrentam problemas tão desafiantes como aqueles relacionados com o autismo, dificuldades de aprendizagem e problemas em fazer amizades.
Jennifer Latson, autora de The Boy Who Loved Too Much: A True Story Of Pathological Friendliness, conta no seu livro uma história de amizade patológica, revelando que esta condição pode ser muito difícil para os pais.
O portador de síndrome de Williams sofre de excesso de ocitocina, também conhecida como hormona do amor. Este distúrbio afeta uma em cada 10.000 pessoas em todo o mundo.
Esta síndrome é considerada o oposto do autismo, embora haja algumas sobreposições. Numa entrevista concedida ao National Geographic, a autora explica que as pessoas que sofrem de síndrome de Williams tendem a amar e a confiar em qualquer pessoa. Aliás, é por esse motivo “que correm para abraçar estranhos, algo que as torna muito vulneráveis”.
A síndrome de Williams foi identificada na década de 1960, na Nova Zelândia, por John Williams, um cardiologista que notou que muitos dos seus pacientes apresentavam estenose aórtica supravalvular – algo muito raro, exceto em pessoas com esta condição.
O médico reparou ainda que os pacientes tinham uma personalidade e características faciais semelhantes. Na verdade, as pessoas que sofrem desta síndrome “tendem a ter uma aparência de elfo“, adianta a escritora, destacando os queixos estreitos, as orelhas proeminentes, as maçãs do rosto salientes e os narizes arrebitados.
Esta condição é causada por uma deleção genética muito pequena – a ausência de 26 a 28 genes no cromossoma 7. Associados a este distúrbio estão alguns sintomas graves, como a deficiência intelectual, deficiência cardíaca, problemas gastrointestinais e de tónus muscular. Em termos de desenvolvimento, é muito semelhante à síndrome de Down.
No seu livro, Jennifer Latson conta a história de Eli D’Angelo, um menino de 12 anos que conheceu pessoalmente. “Ele era tão caloroso e amigável. Abraçou-me várias vezes assim que nos conhecemos.”
“No final da noite, quando comecei a vestir o meu casaco, Eli perguntou se eu me ia embora. Durante o tempo em que estive com ele, tornámo-nos melhores amigos. Ele pensou que eu ia passar a noite toda com ele, ou até mudar-me para sua casa”, conta a escritora.
Na verdade, as pessoas com síndrome de Williams “não costumam ser muito boas a ler sugestões sociais”. “Elas não sabem identificar quando a outra pessoa quer terminar uma conversa ou ir embora. Eli tinha sempre um reportório de perguntas e os seus interesses eram muito semelhantes aos de pessoas com autismo. Era fascinado por ventiladores e, acima de tudo, purificadores de piso”, revela com um sorriso.
No Salk Institute, nos Estados Unidos, os investigadores tentam descobrir quais os genes que contribuem para cada sintoma da síndrome de Williams. Na hipótese original, os cientistas propuseram que todos os sintomas e características do distúrbio dependiam da interação entre múltiplos genes.
Não há um gene que determine a cor dos olhos, mas sim múltiplos genes que interagem. Da mesma forma, nem todas as pessoas com Williams perdem exatamente os mesmos 26 a 28 genes.
Foi então que os investigadores se depararam com uma menina cujo teste da síndrome de Williams tinha sido positivo, apresentando muitos traços deste distúrbio assim como problemas de saúde e características faciais. No entanto, ao contrário dos outros pacientes, a menina não tinha a mesma personalidade amigável e extrovertida.
Depois de muitos exames, os cientistas concluíram que a criança estava a perder todos os genes da Williams exceto um, que parecia estar relacionado com a parte da amizade. “Foi uma descoberta inovadora”, conta Jennifer Latson.
Foi aí que os investigadores perceberam que a síndrome de Williams estava relacionada com os níveis de ocitocina. Esta hormona está envolvida em comportamentos sociais e de intimidade, como o vínculo mãe/filho. As pessoas que sofrem desta síndrome têm muito mais ocitocina do que o resto das pessoas. “Como resultado, os pacientes sentem este impulso biológico de amar o tempo todo.”
Além disso, a autora citou um estudo da Universidade de Vanderbilt que concluiu que as pessoas que sofrem de síndrome de Williams são “uma espécie hipermusical“, na medida em que são movidas pela música: começam a chorar se ouvirem uma canção triste e a dançar se ouvirem uma música animada.
“Apesar das desvantagens, as pessoas que sofrem de síndrome de Williams destacam algumas das melhores características da humanidade.” Esta é uma das frases que surge no livro de Jennifer Latson, a autora que não aprendeu o segredo para conquistar amigos, mas a ser vulnerável (e a ganhar com isso).
LM, ZAP //