O Ministério Público está a investigar suspeitas de crime organizado e terrorismo no caso do furto aos paióis de Tancos. Esta linha de investigação vai contra as declarações do primeiro-ministro, António Costa, que esta segunda-feira descartou esta possibilidade alegando informações das “autoridades nacionais”.
Segundo o Diário de Notícias, que avança com a notícia nesta quarta-feira, a informação foi confirmada pela Procuradoria-geral da República (PGR) na terça-feira por via indireta.
Na terça-feira, a PGR anunciou que o inquérito à recuperação do material de guerra furtado, que estava no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, tinha sido junto ao inquérito do furto, ficando ambos sob a direção do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), que é a unidade do Ministério Público (MP) que investiga a criminalidade organizada e o terrorismo.
De acordo com o matutino, as declarações do primeiro-ministro foram mal recebidas quer pela oposição parlamentar como por vários representantes judiciais. Segundo o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público, António Ventinhas, “só quem poderá aferir que crimes estiveram em causa é o MP no final da investigação”, frisou em declarações ao diário.
Já o PSD considerou, “no mínimo, estranho que o primeiro-ministro tenha prestado aquelas declarações quando tem dito que nada sabe sobre Tancos”. O vice-presidente da bancada, Carlos Peixoto, assinala, neste sentido, “duas inquietações: primeira, como pode o primeiro-ministro saber de uma coisa que está em segredo de justiça? Segunda, como sabe quando sempre disse que não sabia de nada?”.
Em causa estão as declarações de Costa da passada segunda-feira, quando o primeiro-ministro participou numa sessão de perguntas com alunos da Universidade do Minho. Questionado por um estudante sobre se a investigação no âmbito do Tancos não poderia levar a que Portugal pudesse ser visto “como um país facilitador de movimentos terroristas”, o primeiro-ministro afastou esse cenário.
“Esse cenário [de criminalidade organizada e terrorismo] felizmente não se coloca porque logo no dia a seguir à constatação do furto, as autoridades nacionais e, em particular, a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, reuniram a Unidade de Coordenação Antiterrorista que identificou que o furto nada tinha que ver com qualquer ligação a criminalidade organizada, muito menos a atividade de terrorismo”, disse.
As declarações do primeiro-ministro não vão ao encontro às linhas de investigação do MP que decidiu juntar os processos-crime que investigam o roubo e o aparecimento do armamento militar dos paióis de Tancos. A Procuradoria-geral confirmou à agência Lusa nesta terça-feira que “os dois processos foram apensados ”, ressalvando que as investigações estão em segredo de justiça.
Inicialmente foram abertos dois inquéritos de investigação, um sobre o roubo do armamento militar dos paióis de Tancos, conhecido a 29 de junho de 2017 e, posteriormente, outro sobre o aparecimento das armas na Chamusca, a 18 de outubro do mesmo ano que levou à detenção de oito militares e de um civil, João Paulino, apontado como o presumível autor do furto e em prisão preventiva.
Fonte: ZAP