Quando o BES já estava em dificuldades, a BlackRock, a maior empresa financeira do mundo, tornou-se no terceiro maior acionista do banco. A seguir à resolução vendeu as ações, que não teriam valor.
Se o segredo for a alma do negócio, a BlackRock conseguiu fazer o melhor. Ninguém sabe como, mas a maior empresa financeira do mundo conseguiu vender as ações do BES quando este já estava sob medida de resolução, escreve o Público.
Nem o governador do Banco de Portugal, nem a ministra das Finanças, nem a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, CMVM, souberam de nada.
A então ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, que garante não ter sido avisada da mudança de donos numa parte significativa do capital do BES, não esconde que este foi, de facto, um negócio no mínimo “estranho”, especialmente porque as ações do banco, à data do negócio, teriam um “valor próximo do zero”.
Assim, Maria Luís Albuquerque só consegue explicar este negócio com a possibilidade de haver uma empresa que procurasse jogar com a hipótese futura de recuperar o investimento, apesar de não haver indicação da intervenção de uma empresa de recuperação de créditos difíceis nesta venda.
Por seu lado, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, assegura que não havia obrigatoriedade de o negócio ser comunicado ao regulador. “As transações de ações de instituições de crédito que não resultem na alteração da propriedade de uma participação qualificada não têm de ser reportadas ao Banco de Portugal“.
A lei esclarece que apenas as alterações de capital superiores a 10% são consideradas “participações qualificadas”, o que não se aplica a este caso, uma vez que a BlackRock apenas detinha 4,65% do BES, ficando apenas atrás da holding Espírito Santo e do banco francês Cédit Agricole.
Também a CMVM diz que não tinha de ser informada do negócio, que ocorreu a 14 de agosto, onze dias depois da resolução, já que a cotação bolsista das ações do BES estava suspensa desde a resolução.
Além dos 5% que detinha do BES, a BlackRock era dona também de 254,1 milhões de euros de dívida, distribuídas por cinco linhas de obrigações seniores, que foram transferidas para o “Banco Mau”.
É essa mesma dívida que está a motivar o processo de litígio que decorre entre a maior empresa financeira do mundo e o Governo português, que tentou moderar a crise.
Fonte: ZAP