A eurodeputada Marisa Matias, do Bloco de Esquerda, disse a Mário Centeno, num debate no Parlamento Europeu, que é “desconcertante” vê-lo, enquanto presidente do Eurogrupo, a “encabeçar as ameaças” a Itália, questionando-o se não “há limites para a incoerência”.
Num debate na comissão parlamentar de Assuntos Económicos e Monetários, a eurodeputada Marisa Matias interveio começando por lembrar a Mário Centeno que “é ministro das Finanças de um Governo que inverteu muitos dos aspetos da política imposta pela troika”, com a implementação de uma política, que “provavelmente não era bem o seu programa”.
Ainda assim, apontou, “em força do quadro de apoio parlamentar, teve resultados indiscutivelmente positivos, tanto do ponto de vista económico, como social, e também das contas públicas”.
“Eu devo confessar-lhe que, por isso mesmo, foi para mim tão desconcertante vê-lo gravar um vídeo em que celebrou a devastação económica que foi imposta à Grécia, uma devastação, aliás, que a maioria parlamentar que o apoia recusou”, afirmou Marisa Matias.
“E é por isso também que para mim é desconcertante vê-lo encabeçar as ameaças a um Governo, que por muito pouco que gostemos dele, foi eleito pelos italianos. E que, com essas ameaças, como estamos a ver, só vai saindo cada vez mais reforçado”, reforçou.
A deputada referia-se a uma mensagem em vídeo gravada por Mário Centeno por ocasião da conclusão do programa de assistência à Grécia, no verão passado, e às opiniões sobre o plano orçamental de Itália para 2019, que Bruxelas devolveu a Roma para que o reformulasse.
“E perdoe-me a sinceridade, mas não acha que há limites para a incoerência? Não pode justificar-se tudo para a presidência do Eurogrupo”, completou a deputada do Bloco, partido que juntamente com o PCP garante uma maioria parlamentar ao Governo socialista.
Na resposta, em inglês, a língua a que recorreu ao longo de todo o debate – “eu vou continuar em inglês só para manter a coerência, como vê sou muito coerente”, ironizou – Centeno confirmou o orgulho em Portugal pelo que “o país alcançou nos últimos anos”, comentando que esse processo mostrou, até na cena europeia, “que de facto há políticas alternativas, porque é disso que as democracias são feitas, de alternativas”.
Centeno enfatizou, todavia, que tal “foi alcançado dentro das regras comuns” da zona euro, e foi possível porque desse modo o país reconquistou a confiança interna, mas também dos mercados, “o que ainda é mais importante”.
Em conclusão, Centeno disse que, não querendo exibir-se “como um ministro das Finanças especial”, a verdade é que a experiência portuguesa mostrou que é possível políticas alternativas simultaneamente em cumprimento com as regras europeias.
Na sua intervenção inicial perante a comissão de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu, Centeno comentou que o plano orçamental revisto de Itália para 2019, sobre o qual a Comissão Europeia se pronunciará na quarta-feira, “não dissipou as preocupações” relativamente à sua estratégia orçamental.
“O plano orçamental revisto não melhorou a situação em termos de custos de financiamento da dívida, o que significa que não dissipou as preocupações relativamente à estratégia orçamental de Itália”, declarou o presidente do fórum de ministros das Finanças da zona euro, perante os eurodeputados.
Numa deslocação a Roma, em 9 de novembro, Centeno exortara o Governo italiano a submeter a Bruxelas um novo plano orçamental em linha com as regras comuns europeias, advertindo que só assim Itália dissiparia as “dúvidas persistentes nos mercados e entre os parceiros europeus” sobre a sua estratégia orçamental, que “já está a ter um preço, na forma de custos de financiamento mais elevados para o Estado italiano, empresas italianas e cidadãos italianos”.
Esta terça-feira, Centeno lamentou que essas dúvidas não tenham sido dissipadas com o “novo” plano orçamental, sobre o qual a Comissão Europeia se pronunciará na quarta-feira, e o Eurogrupo na sua próxima reunião no início de dezembro, e recordou que o fórum de ministros das Finanças da zona euro apoiam a opinião do executivo comunitário.
Fonte: ZAP